Outro dia escrevi aqui sobre os badulaques culinários que a Revista Caras entucha nos leitores. E o amigo Pedro Martinelli me fez estas fotos, que são de gadgets caaporas.
O de cima é de índios. Pedro anda com um no carro, acho que para coçar as costas. Originalmente ele serve, numa extremidade, como um gancho para lidar com panelas quentes e, na outra, que parece “quadripé” (um tripé+ 1) como uma pá de liquidificador, serve para, rodando a haste entre as mãos naquele mesmo gesto de acender fogo, agitar a extremidade dentro do feijão e outros produtos caldosos.
O da foto abaixo é de caboclos. Duas estrelas de alumínio com uma haste. Tem a mesma função do liquidificador: transformar em pasta o feijão, engrossando o caldo. O gesto é o mesmo do indígena para acender fogo. Pedro me deu um desses de presente faz tempo. Imagino a hipótese remota de, um dia, faltar luz no exato momento em que tempero o feijão.
Vendo os dois instrumentos me ocorreu que certos gestos parecem mesmo universais na culinária. Que os caboclos, que não têm eletricidade, se virem para produzir o mesmo efeito do liquidificador, entendo. Quem não tem cão, caça com gatos. E os índios? O negócio parece mais engenhoso, multifuncional. Será que já existia antes do contato com os brancos? Em caso afirmativo, estaremos diante de uma proto-história dos gadgets culinários. É preciso procurar o socorro de antropólogos.
É lamentável também que não possuamos um museu de culinária. Esses objetos estariam nele, necessariamente. Há alguma coisa no Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte. Mas é pouco. E me lembro de uma magnífica mostra que o Sesc-Pompéia realizou há mais de uma década. Era um acervo extraordinário sobre cozinhas tradicionais. Onde será que foi parar?
25/04/2009
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1 comentários:
Breno Raigorodsky
A sêmola é velha conhecida dos povos do Magrebe antes mesmo da conquista árabe. Foram os muçulmanos, contudo, que criaram essa espécie de cozido de legumes, onde a sêmola serve de acompanhamento. O nome que os árabes dão à sêmola é “keskes”, termo originado no árabe “koskossou”, que significa farinha.
Com origem no século VII, hoje o cuscus significa as duas coisas, tanto a sêmola quanto o prato completo, apesar da sêmola ganhar direito ao termo apenas depois de cozida no vapor.
Até hoje, no Magrebe, há quem prepare o cuscus à moda antiga, com doses precisas de dois tipos de moagem de sêmola e uma quantidade específica de água, resultando em farinha.
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