17/06/2009

O biju de mandioca é genuinamente indígena?

“(...) o que ocorreu na Bahia e em Pernambuco foi que os cereais de segunda no reino viram-se simplesmente substituídos pela farinha de mandioca. Mesmo quando a gente de prol recorreu a ela, fê-lo sobretudo sob a forma de bijus, estimados por mais saborosos e de mais fácil digestão. Ora, o biju não era criação indígena, mas uma das muitas invenções da arte culinária das mulheres portuguesas, na sua inclinação a arremedar manjares lusitanos com produtos nativos. No caso dos bijus, tratava-se de utilizar a farinha de mandioca à maneira do que se fazia no Reino com a farinha de trigo na confecção de filhós mouriscas. Bijus espessos e torrados, que duravam mais de ano sem se deteriorarem, eram igualmente usados no aprovisionamento dos navios de torna-viagem.
A tapioca constituía outra forma de consumo de farinha de mandioca pela "gente de primor". "Grossas como filhós de polme e moles", eram, contudo, menos apreciadas que os bijus, pois "não são de tão boa digestão nem tão sadias". Ademais, e ao contrário dos bijus, eram deglutidas quentes e banhadas no leite e, misturadas com açúcar branco, resultavam deliciosas. A carimã era especialmente ingerida como pirão, feitos também de caldo de peixe ou carne, com açúcar, arroz e água de flor de laranja -pirão, aliás, inicialmente designado por marmelada de mandioca”. (Evaldo Evaldo Cabral de Mello, “Nas fronteiras do paladar”, Mais!, 28 de maio de 2000).

0 comentários:

Postar um comentário