Não sou muito da crítica de restaurantes. Faltam-me a competência e método do Alhos , a irreverência dos bichos mordidos e, ainda, o culto a esse anonimato necessário que, digamos, cobra lá o seu preço. Mas aqui não há o que esconder: o que é bom, é bom; e “viver a vida sem frescuras”, como diziam Roberto & Erasmo Carlos, pode ser ótimo.
Pois consta que, de novo, há uma onda de bistrôs afrancesados na cidade, e esse L´amitié, no Itaim, fará história. O chefe-proprietário, Yann Corderon, já cozinhou para o exército francês no Senegal, e não será uma simples divisão de brasileiros à busca de um norte que seja um porto seguro que irá tirá-lo do sério. E o sério, para ele, é fazer uma comida simples. Tão simples e bem feita que parece de lá (Paris), e não daqui. Tão clássica que é uma tremenda novidade.
É um pouco o que procurávamos fazer no velho Danton, onde havia uns arroubos moderninhos, pela influência da nouvelle cuisine. No L´amitié é mais retrô, se quiserem rotular.
Um espaço pequeno (60 lugares), tudo meio apertadinho, decór meio rococó provinciano francês que cai bem em bistrôs (pois não nos deixa esquecer que não estamos em Nova Iorque ou Tóquio, como se costuma confundir por aqui), e pratos prá lá de manjados, com um apuro raro na cidade. O couvert honestíssimo e como deve ser se você não quiser se empanturrar e matar a entrada: pão, azeite, uma pasta de tomate, flor de sal. Várias entradas apetitosas. Pratos clássicos e mais pratos clássicos. A salada jambon du pays, o entrecôte béarnaise, o steak tartar que experimentei, estavam perfeitos, surpreendendo para mais os que se desacostumaram com o padrão da simplicidade. Carta de vinhos correta e enxuta, com opções francesas, portuguesas, chilenas e argentinas da Zahil. Tomamos um Esteva, da Casa Ferreirinha, raro em restaurantes.
De sobremesa, escolhi o trio de chocolate salpicada com flor de sal (a única ousadia do cardápio). Invoco com essa história de “trio” que não faz tese-antítese-síntese. Por que não a coisa simples ou, no máximo, um “duo”? Mas estava tudo bom: a mousse, o pequeno bolinho (que não é o petigatôôô!) e o sorvete. A mousse especialmente boa e, como não sou de trio, já disse, excedente nos demais componentes. Mas reconheço que se pode comer com igual prazer o sorvete e/ou o bolinho. Sobremesa para dividir, portanto.
Yann é muito animado. Entusiasta mesmo. Dá gosto vê-lo subir e descer a escada apertada que leva ao segundo andar, onde está a cozinha. E se orgulha que o coq au vin seja feito com galinha caipira. Eu também acho o máximo. Vou voltar para experimentar esse e outros pratos. Acho que L´ amitié será desses lugares para se ir quando não se quer errar, como tem sido o calvário dos críticos de restaurantes e dos seus freqüentadores usuais.
Nada de alta ou baixa gastronomia. Apenas um lugar que leva você, em linha reta, ao que prometeu; o que, convenhamos, é uma grande proeza. Um lugar para viver a vida sem frescuras.
Os preços me pareceram bons. Executivo completo a R$ 39.Competitivo para a região. E couvert a R$ 7. Justíssimo. Longa vida à amizade!!
07/08/2009
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3 comentários:
Nunca me empolguei muito com o Azait, quem sabe agora ele acertou. Provarei. Valeu pela dica!
Carlos
Xará,
nunca fui ao Azäit. Só passei na porta. Mas lá ele era empregado, aqui patron. Deve fazer muita diferença
abrçs
Carlos,
obrigado pela referência.
Fui uma vez ao Amitié e gostei. Concordo integralmente com seu comentário. E preciso voltar...
Abraços!
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