10/08/2009

Os peixes, as roças...

A primeira elaboração romântica sobre a Amazônia foi incitada pelo próprio Imperador, ao propor ao Instituto Histórico e Geográfico o desenvolvimento de estudos que respondessem às seguintes questões: "Se existiram Amazonas no Brasil? Se existiram, quais os testemunhos de sua existência; quais seus costumes, usanças e crenças? Se se assemelhavam ou indicavam originarem-se das Amazonas de Scithia e Líbia, e quais os motivos do seu rápido desaparecimento? Se não existiram, que motivo tiveram Orellana e Cristovão da Cunha, seu fiador, para nos asseverarem a sua existência?” E coube justamente a Antônio Gonçalves Dias, um de nossos mais importantes poetas românticos, desincumbir-se da tarefa.
De lá para cá, essa mitologia sempre encontrou eco entre brasileiros e estrangeiros – e continuará encontrando, de vez que o desconhecido tão bem se presta à imaginação – mas, ao mesmo tempo, tem servido de forte estímulo à indagação científica e à apropriação racional desse que, sem dúvida, é um dos mais expressivos patrimônios da humanidade.
Hoje, a aparente utopia da “civilização florestal” tem o sentido maior de desafio a que se construa formas originais de gestão dos recursos naturais da floresta, tornando-as perenes ao mesmo tempo que propiciadoras do bem estar da população.
Do ponto de vista da alimentação, os mesmos problemas se apresentam. Acresce, porém, uma forma específica de idealização cuja particularidade é suprimir a imensa diversidade de modos alimentares que a vasta região abarca. Um continente (o que contém) com vários conteúdos. Eis a melhor definição culinária da Amazônia. Poucos desses conteúdos despontaram até hoje para fora da região.
Alguns exemplos: a diversidade da mandioca (4 dezenas de espécies, cerca de 200 variedades) é pouco apropriada culinariamente; os peixes de rio, também em enorme variedade, são pouco conhecidos fora do âmbito das culinárias populares; as chamadas “drogas do sertão”, de enorme potencial, mal e mal são apresentadas no mercado Ver-o-peso.
O que melhor se conhece no momento são: a nova culinária peruana e a culinária tradicional paraense. Parte da culinária dos peixes e da culinária da mandioca, além da culinária do altiplano (que inclui variedades de batatas e milho) e da costa boliviana.
Estes temas todos fazem o repertório que se deseja ver explorado pelos convidados do terceiro encontro do "Entre Estantes & Panelas - A Gastronomia de Pensar", a ser realizado hoje na Livraria Cultura [ver convite em post anterior].

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