O frigorífico Friboi é o boi. Com duas aquisições que anunciou, uma nos EUA, tornou-se o maior comerciante mundial de carnes (incluindo frango e porcos, além do boi).
Um certo nacionalismo empresarial acha isso o máximo. De fato, partir de um pequeno matadouro em 1969 para chegar, 40 anos depois, na liderança mundial, é um feito e tanto. Mas os concorrentes também temem o monopólio. Está certo.
Mas como se chegou a isso? Além da globalização, da financeirização dos ativos econômicos, é preciso ver que essa trajetória foi perseguida por todos os frigoríficos, inclusive os que ficaram para trás.
Lá longe, quando o senhor Delfin Netto era ministro da agricultura, houve por bem proibir os matadouros municipais. O abate bovino e suíno praticamente foi monopolizado pelas Sadia e Perdigão.
Os pequenos foram sendo incorporados, ou viraram fornecedores dos grandes. O abate clandestino também cresceu. No Rio Grande do Sul estima-se que, hoje, cerca de 40% da carne suína consumida em várias formas provém de abate clandestino. Esta é a conseqüência da desativação dos matadouros municipais: menos controle e mais riscos sanitários para todos. Além da formação dos monopólios.
Hoje, os velhos “matadouros” viraram “frigoríficos”. O verbo matar desapareceu, embora haja tanto rastilho de morte na atividade pecuária. Mas agora só se “refrigera”. Os matadouros viraram uma espécie de necrotério do C.S.I. bovino. Os assassinos, não se sabe onde estão, embora a análise dos cadáveres nos dêem indicações sobre eles.
O senhor Joesley, executivo da Friboi, é o homem do frio. Mas tornou-se, ao lado dos homens da soja, um dos maiores consumidores de Amazônia bruta. Mato, madeira, queimada, pasto, boi, soja – eis o roteiro da destruição. Depois de tudo dominando, boi vira soja e soja vira boi. Ambos, na panela, viram bife. São as metamorfoses modernas da Amazônia. Enquanto houver fronteira agrícola no país será bem dificil estancar esse processo que converge para as nossas bocas.
Fácil, fácil o senhor Joesley será também o homem do fogo. Uma conseqüência da concentração de capitais é a concentração de responsabilidades.
Se ele fosse um homem público, perguntaríamos: qual o seu programa de governo? E, pela importância, tornou-se mesmo um homem público. E devemos perguntar: qual o seu programa para a Amazônia, senhor Joesley? Não pense que, por conta de uns bifinhos, vamos engolir qualquer coisa, pois fica um travo na garganta.
17/09/2009
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