09/11/2010

Como será construída "a nova culinária brasileira"? - I


Um dia a “nova culinária brasileira” deixará de ser uma promessa para ser uma realidade. Isso porque, depois de anos de muita conversa, nem sempre frutíferas, os que se envolveram com o assunto estão convencidos de que a experimentação do novo, a improvisação, a pesquisa e a combinação mais ou menos insólita de ingredientes ou sabores, é um caminho mais promissor do que ficar remoendo a tradição.

Os modos tradicionais de cozinhar e comer tem, para a gastronomia, a mesma importância que o street wear para a “moda”. Claro, cada um se veste como quer e come como quer, mas a atividade organizada com o fito de “inovar” precisa ter um pouco de método e se afastar da simples reiteração do mesmo. Nesse último terreno, a única coisa que se pode “medir” é quem está mais colado à tradição.

Mas a inovação não é uma virtude em si. É, antes, uma demanda do mercado. De tempos em tempos as pessoas querem novidades; quando cansam delas, buscam refúgio na tradição. E essa tradição acolhedora pode ser, ela mesma, fruto de uma inovação passada.

Hoje vivemos o momento pós-feijoada. O que inclui o pós-escondidinho, o pós-bife acebolado, o pós-romeu-e-julieta e assim por diante. Queremos nos afastar das obviedades porque sabemos que a “brasilidade” – qualquer coisa que se entenda por isso – pode render muito mais. E tem rendido.

Afinal, o Brasil é hoje tão plural, e foi tão descaracterizado na sua alimentação pelo avanço vertiginoso da indústria alimentar standard, que a “identidade” é quase uma invenção que parte do nada; ou uma reminiscência de um passado rural que já não toca as novas gerações urbanas. A “casa da avó” já não é no interior. Já não se criam galinhas no sítio, e assim por diante.

Por isso mesmo, porque não há ponta à qual se apegar, é que é preciso reinventar o prazer de comer à brasileira - se isso ainda tem algum sentido para nós.

(Seguirá em futuros posts)

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