Pascoa. Bacalhau e ovo de chocolate. Compare formato de peixes para detectar o verdadeiro bacalhau. Ovos de chocolate? Degustação? Bah! Será que todo ano temos que ser submetidos a esta falta de criatividade dos cadernos de gastronomia? A memória do leitor vale nada? Depois de tantos anos o camarada ainda não sabe identificar um Gadus Morhua?
Ok. Mas quando vejo no Paladar um monte de ovos de Pascoa com preços tão discrepantes me pergunto: por que tantos jornalistas tão inteligentes e competentes não mergulham nesse assunto, buscando entender (e nos explicar) por que custam preços tão díspares?
Outra coisa: acho que jornalista de gastronomia deveria estudar um tanto de biologia que fosse superior ao conhecimento colegial. Na matéria “Caçadores de cacau selvagem” da Cintia Bertolino, no Paladar, fala-se de um cacau selvagem: “por não ter sido plantado pelo homem, esses cacaus dão um fruto diferente [...] menor e de sabor mais forte que o das espécies cultivadas”.
Em primeiro lugar, o cacau cultivado é o Theobroma cacao, ou “cacau verdadeiro”, que possui duas variedades dominantes no mundo todo (criollo e forastero, além do híbrido trinitário). Já as espécies selvagens são Theobroma speciosum, ou “cacaui”, dando árvores de até 15 metros de altura, com área geográfica mais ampla que todos os demais Theobroma; o Theobroma mariae, ou “cacau jacaré”; e o Theobroma bicolor, ou “cacau do Perú”. Sobre qual a nossa jornalista escreveu? Não faz-se a menor idéia. Ela nos informa apenas que o tal cacau dá no mato.
Acresce que ultimamente os arqueólogos andam discutindo se os ajuntamentos de árvores frutíferas da Amazônia são espontâneos ou cultivados em períodos pre-colombianos. O cacaui entra nessas discussões, o que é um aspecto muito interessante sobre a antiguidade do manejo das florestas e sobre a seleção artificial, alí onde parecia ter prevalecido a seleção natural. Infelizmente a matéria, sobre tema cativante, parou nos umbrais da botânica e da história.
Folhão? Hoje matéria sobre uma suposta “culinária tailandesa”. Mas em obra de ficção dispensável. E pegou o modelo de se fazer uma reportagem qualquer à qual se agrega um pequeno texto do douto Josimar. Um calço para a matéria capenga?
Como chocolate e vinhos, diz-se, combinam muito pouco, vamos ao vinho. No Valor você encontra uma tabela com o ranking dos 20 melhores vinhos da Itália, montado pela revista Gentleman, reproduzido por Jorge Lucki com a indicação de quem, no Brasil, importa.
É interessante observar o método de reunir informações de várias fontes (são 6 guias) e somar as pontuações. A minha nota mais a sua quer dizer que o vinho é mais seguramente bom?
O próprio método de Lucki parece ser o de ir atrás dos consensos: “tentar degustar o maior numero possível de vinhos que tenham obtido altas pontuações nos guias especializados da Itália, em especial o Gambero Rosso e o Duemilavini. Serve para encurtar o caminho e ao mesmo tempo analisar os critérios de cada um deles, me concedendo a possibilidade de concordar ou discordar de suas avaliações”.
Mas, cá entre nós, o Jorge Lucki tem critérios próprios de avaliação de vinhos ou de guias? O que ele degusta? Os critérios dos guias ou os vinhos? Seria muito mais útil para o leitor se ele não repetisse o Gambero ou o Duemilavini, buscando ser original a partir de uma idéia (real ou imaginária) do gosto do seu público brasileiro.
Talvez eu esteja querendo demais de uma simples Páscoa. Tão monótona quanto as últimas 2 mil Páscoas...
14/04/2011
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