À época do tropicalismo, 2+2=5. Agora, a ombudsman da Folha nos sugere outra equação: 1+1=1. É uma nítida desvantagem. Sim, porque ela nos indica que o Comida corre atrás do prejuizo: demorou a Folha por lançá-lo e, agora, faz algo muito semelhante ao concorrente.
Semana passada senti mesmo um certo enjoo com tanto ingrediente e optei por não escrever o Leitor de 5ª. Afinal, estamos aqui para nos divertir, não é mesmo? Até tinha algo a dizer sobre a pimenta que estava na capa do Paladar. Mas fica para outra oportunidade.
Talvez devesse a Folha ter escolhido um caminho distinto: ir construindo o Comida página a página, até chegar a um “caderno” solido, coerente e inovador. Mas não. Preferiram surfar na onda fácil e arriscar arrebentar a boca do balão. Não aconteceu.
Em matéria de cinema, teatro e moda levam vantagem sobre o Estadão. Especialmente em moda, sob a direção esclarecida de Alcino Leite que estabeleceu um método para a editoria. Em gastronomia não. A começar pelo título: “Comida”, que é coisa bem distinta. Mas enquanto não perceberem a diferença entre comida e gastronomia vão continuar batendo a cabeça.
Nessas publicações a capa parece cumprir o papel do editorial. Hoje temos cervejas brasileiras ditas “artesanais” (Paladar) e paozinho frances (Comida).
A matéria sobre pão é inacreditável. A autora não é outra senão Lucilia Diniz, aquela mesma que tem horror a calorias e é sócia do Pão de Açúcar. Inconformada com a geografia burguesa que diz que Higienópolis é a “terra prometida” das padarias (não gosta do Benjamim Abrão, da Barcelona, da Aracaju, da Galeria dos Pães ou da Dengosa) ela saiu por ai e visitou mais de 100 padarias. Claro, para ninguém acusar o jornal de ficar girando em torno do umbigo.
Quase morri de rir quando ela diz que as padarias de Higienópolis fazem pães que “hoje em dia, estão mais para supermercados”!!! Em outras palavras: se assemelham à porcaria que seu estabelecimento vende. Esquece de dizer que as padarias foram sufocadas pela expansão dos supermercados. Agora, quando algumas encontraram o modo de sobreviver - se tornando, em parte, lanchonetes - ela vem acusa-las de parecerem supermercados.
Mais grave: Dna Lucilia esqueceu de dizer que o paozinho frances é o unico produto de padaria que tem uma definição legal, por fazer parte da cesta básica do trabalhador. Por fim, talvez nem saiba, os paezinhos franceses são, em 90% dos casos, meras misturas (mix) compradas prontas do moinho Santista, acrescentando-se apenas água no estabelecimento onde é assado. Dna Lucila não precisava ter batido perna como fez. Bastava analisar o mix da Santista em seu próprio forno. Eu, se fosse o editor, pediria para ela voltar às 100 padarias e descobrir quais não usam o pré-mix da Santista. Mas será que esta matéria não foi uma reação-vingança contra a ombudsman Susana Singer?
Boa matéria de Cristiana Couto sobre o restaurante Next, em Chicago. Aquele tipo de matéria que não foi programada pela editoria, mas aproveitou a viagem circunstancial da autora a Chicago. Jornalismo-de-bagagem, de qualidade quando o viajante tem qualidade. Mesma coisa sobre a matéria feita em San Gimignano, a respeito do sorveteiro Sergio Dondoli, que virá ao Brasil no verão.
Resenha de Josimar sobre o Porto Rubaiyat, que reabriu na rua Amauri. Piorou de endereço, é certo, mas Josimar sugere que melhorou de culinária. Na mesma linha de “renascimentos”, Luiz Américo sugere no Paladar que devemos dar nova chance ao Le Buteque, agora com nova chef.
A matéria do Paladar sobre as cervejas dá um panorama mundial sobre as cervejas e se detém no esforço brasileiro de construir as suas próprias cervejas, incluindo nas formulações frutas do Amazonas e até doce de leite. Um pouco confusa, porém, a nota sobre os esforços de produção de uma “levedura brasileira”. O que quer dizer isso? Uma espécie nova ou a utilização de velhas leveduras presentes na velha cachaça? Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Excesso de nacionalismo ao qual o jornal fez eco de modo acritico.
Comida faz matéria-homenagem mais do que justa ao garçon do bar Leo, na rua Aurora, que faz 90 anos.
Paladar antecipa-se a si próprio: revela nesse número a programação do Paladar - Comida do Brasil que só acontecerá dentro de um mês. É uma programação variada, com coisas interessantes. Farei um workshop com Jefferson Rueda sobre cuscuz. Faltou o complemento da frase no título: cuscuz - restauração histórica e técnica.
Há dois eventos programados sobre pães - com Ana Zita Fernandes e com Rogério Shimura. Espero ver Dna Lucila na primeira fila, pois ela terá muito a ganhar com isso. Mas o que mais espero é a sessão sobre “cozinha sertaneja”, com Rodrigo Oliveira e Dna Ana Rita Suassuna. É uma jam session culinária que promete!
30/06/2011
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6 comentários:
Achei o Comida monótono desde sua primeira edição, mas hoje ele se superou e emulou a revista Caras, ao dedicar páginas para expor as ideias dessa socialite! O que devemos esperar semana que vem? A lista dos restaurantes preferidos de Hebe Camargo? Uma matéria intitulada "Cozinhando com os astros"?
E o pior, notei que o Paladar está vindo nessa mesma toada. Será um caso de concorrência danosa (para o leitor)?
Talvez 1+1 seja igual a 1/2...
Também fiquei curiosa com a seção de Rodrigo Oliveira e Dna Ana Rita!
Nossa, que desânimo; também achei que "Dna Lucilia" fosse tratar do mix e da droga da margarina que formam a massa dos pães, but... A propósito, no ano passado comprei um filão com grãos na Basilicada, e qual não foi a minha surpresa ao ler, na embalagem parda, o famigerado "mix" entre os ingredientes. Entrei em contato imediatamente, com o coração palpitando, e o dono me jurou que era um equívoco; inclusive conversei com ele, dias depois, em um das palestras na Livraria Cultura... Depois desse fato comecei a ligar para as padarias e questionar sobre os ingredientes; esperava ler algo que girasse em torno disso!
Sem entrar na discussão do mérito de um caderno ou de outro, da qual prefiro me abster, pergunto, por mera curiosidade: porque não acentua direito seus textos, quando é tão rigoroso, no bom sentido, quando outros cometem erros, dizem asneiras ou escrevem reportagens bobinhas ou superficiais?
Senhor anônimo, eu nasci sob a égide do acordo ortográfico de 1945 - aquele mesmo que levou Monteiro Lobato a dizer que suas palavras não eram penico para se colocar acento. Depois, passei pela reforma de 1971 e, agora, pelo acordo ortográfico de 1990, regulamentado recentemente. O objetivo desse ultimo (ou será último?) é propiciar um mercado globalizado para a língua portuguesa, tornando desnecessária, por exemplo, a "tradução" de Saramago pela Cia. das Letras. Vou ser sincero: cansei; como aquele velho que vai à padaria de pijama, comprar o pão matinal.
Sob o aspecto formal, porém, saiba que o período de adaptação, legalmente definido pelos senhores da ABL, vai até 1912, o que torna a sua observação um pouco extemporânea.
Gosto de ver o cuidado de certos blogueiros com o texto ("Alhos", "Um litro de letras", etc), mas os meus textos aqui são como rascunhos, e não imaginei que pudesse incomodar alguém. Por outro lado, ficaria feliz ao conhecer sua opinião sobre o mérito do que é discutido.
Abraço fraterno do
Dória
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