31/07/2011

A agricultura familiar, base da gastronomia brasileira

A agricultura familiar representa cerca de 38% da produção agropecuária do país, mas apenas 10% do PIB, apesar de ocupar 24% da área plantada e empregar 74% da mão de obra rural. Ela é responsável por 70% dos alimentos levados à mesa dos brasileiros: 70% do feijão, 84% da mandioca, 31% do arroz, 58% das carnes suínas, 54% das carnes bovinas, 40% das aves e ovos.

A qualidade das matérias-primas também depende, em grande medida, desses pequenos produtores. Essencialmente, eles fazem aquilo sobre o que os cozinheiros se debruçam para imprimir o seu trabalho ou a sua “arte”.

A propriedade tipica da agricultura familiar tem em média 18 hectares. Ocupa cerca de cinco pessoas, sendo que essa força de trabalho é 66% de homens e 33% de mulheres, ao passo que 8% se compõe de pessoas com menos de 14 anos. No global, 91% desses trabalhadores mantêm vínculos de parentesco com o produtor. Segundo o censo de 2006, em 3,9 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar (89% delas) o produtor é proprietário. A média do valor anual da produção agropecuária dos 3,8 milhões de estabelecimentos foi, em 2006, de R$ 13.987,00.

Em termos culturais, 68% são apenas alfabetizados ou possuem o primeiro grau incompleto. Somente 39% participam de associações ou cooperativas.

Poucos se dedicam a atividades de transformação da matéria-prima que produzem: as agroindustrias da agricultura familiar somam 85.632, segundo levantamento entre aqueles que utilizam o sistema Pronaf. Desse total, 39 mil produzem queijos; 22 mil, farinha de mandioca; 7 mil, derivados da cana de açúcar, sendo 2,8 mil produtores de cachaça. Produtos processados da apicultura, 460; carnes processadas, 235; geléias e doces, 1.629; vinhos, 133; sucos, 96.

Dos que produzem queijos, 12 mil estão em Minas Gerais; 6 mil no Ceará; 3 mil em Goiás e quantidade igual no Rio Grande do Sul. A farinha de mandioca se concentra na Bahia, com 7 mil produtores, seguida pelo Amazonas, com 4 mil produtores.

É muito dificil conhecer essa diversidade toda. Imagine-se um trabalho sistemático para classificar as cachaças. São 2.800 produtores! E as farinhas de mandioca? São 22 mil! Quando algum chef “descobre” um fornecedor disso ou daquilo, com alguma característica particular, é uma festa.

Brasil, um país a se descobrir, culinariamente falando.

3 comentários:

Claudia disse...

Dória,

A agricultura familiar orgânica está mudando esse cenário. Todas as propriedades orgânicas, e aquelas que estão se convertendo para a produção orgânica, tem como base a diversificação de culturas e o processamento dos produtos secundários gerados na propriedade.

No sertão de Pernambuco há treinamentos e cursos para os produtores rurais se dedicarem a produção de farinhas, frutas secas, sucos concentrados, óleos não refinado (extra-virgem), queijos, geléias, doces e por aí vai. Os treinamentos e recursos para expansão do Pronaf orgânico são infelizmente restritos aos programas específicos ou aos projetos ainda limitados de algumas ONG's.

Por exemplo, nós pés do algodão orgânico planta-se pimentas e um certo tipo de pimentão que ajudam a combater umas das principais pragas do algodão. Depois que colhe-se o algodão colhe-se também as pimentas e pimentos que viram produto excedente. Isso o alogodão transgênico ou com "espraizado" com pesticida não permite fazer já que vai matar as pimenteiras todas. E hoje a conversão para orgânicos pode gerar renda e combater a pobreza rural já que gera maior produção e permite ao produtor mais chances e a nossa culinária produtos de maior qualidade. E veja bem, se o preço do algodão está baixo, e felizmente o algodão orgânico nunca está, o agricultor ainda tem em mãos pimenta orgânica da boa para processar, fazer molho ou vender in natura.

Problema, sempre os governos, que só dá emprestimo para quem mostra nota fiscal da compra de veneno.

Vou reproduzir essa postagem, pode ser?

Abraços,

Claudia

e-BocaLivre disse...

Claro, pode reproduzir.

Romis Lima disse...

Pois é, Dória! A agricultura familiar é toda essa riqueza...moro numa região onde a agricultura familiar é muito intensa e ativa, no sudoeste do Paraná. Convivo com o cotidiano dos agricultores e muito agradável isso. Tenho o privilégio de ter um agricultor toda semana me entregando verduras na porta de minha casa...como era antigamente quando eu criança em Minas..."olhe o verdureiro!" Como pesquiso e faço extensão na área de agricultura familiar, sempre descubro coisas novas ...semanas atrás, conheci um casal de produtores que fazem açúcar mascavo do jeito totalmente tradicional...fui para lá e passei o dia com eles acompanhando todo o processo e voltei para casa com o melhor açúcar mascavo que já comi na minha vida...bendito sejam esses agricultores! :-)

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