Comida reune, como capa, receitas para se reaproveitar o pão. De verdade, nem sei o que dizer. Só me estranha que rabanada deva se chamar “pain perdu” para parecer gostoso e sofisticado. Tem sido assim em São Paulo.
Também em Comida, Marilia Miragaia nos explica as diferenças entre bistrô, tasca, diner. Deixou de lado trattoria. E não sei se explica muita coisa a sua matéria, preocupada em comparar o que se vê aqui e o “original” - um belisco num universo infinito... Crônica de Mara Salles, ainda sobre o Peru. Nina Horta, também sobre o Peru, ao qual não foi, a não ser por filme.
Tem ainda, o Comida, ano-novo judaico, restaurantes que contratam mergulhadores para apanhar peixes (Paulistano, não se anime: é no Rio de Janeiro!). E Carlos Bertolazzi, que elaborou um jantar bacaninha de 30 mangos. Extraordinário que não tenha utilizado Nutella, do que é fã incondicional.
Paladar todo dedicado aos problemas da culinária brasileira, que chama “numero especial de aniversário”. Quando terminou o evento Paladar - Cozinha do Brasil, o jornal havia se comprometido a consultar os presentes e elaborar uma espécie de manifesto. Acho que por causa do fiasco do manifesto do dito “G9” deram um passo atrás, limitando-se a fazer um inventário de problemas e criar, no facebook, um espaço para os leitores opinarem. Parece mais democrático, mas será mais eficiente? Manifesto é tomar posição e, quiçá, propor caminhos.
O levantamento é bom. Mostra como o poder público sentou sobre nossa culinária, destruindo-a em vez de proteger o que tem valor que transcende o aspecto meramente nutricional. As proibições e constrangimentos que atingem o queijo de leite cru; o mel de abelhas sem ferrão; o sangue para a galinha de cabidela; os usos da madeira e do cobre na cozinha, e assim por diante.
Tudo mostra um Ministério da Agricultura e uma Anvisa alienados do Brasil. E um Estado que, em vez de fixar e apoiar aquilo que, afinal, se chama “Brasil”, assume o papel de babá de consumidores considerados incapazes de escolher o melhor para si. Um excelente texto de Olivia Fraga explica tudo, tim-tim por tim-tim.
Ponto alto da edição: uma entrevista com Piero Sardo, do Slow Food, sobre a luta na Itália pelo lardo di colonnata. E ele coloca a questão política fundamental: “não podemos aceitar que nos digam o que devemos e o que não devemos comer”. Ponto baixo da edição: a foto apresentada como de um pitu é, na verdade, de um camarão comum de mar. O pitu, tão sumido está que já nem se faz reconhecer na redação de Paladar. E tomam gato por lebre, como diriam os chineses. Eis o pitu verdadeiro:
Mas o tema do leite cru, aliás, foi a questão central da semana, à luz da estréia nos cinemas do documentário de Helvécio Ratton: “O mineiro e o queijo”. Num texto sensível, Luiza Fecarotta faz a crítica do filme no Comida.
Estive lá, no Unibanco, debatendo o filme com o diretor, com Paulo Werneck e um fiscal, representante do Ministério da Agricultura. Não é a primeira vez que participo de debates com esse mesmo representante do Ministério. Os argumentos que traz contra a livre circulação do queijo continuam os mesmos, de sorte que, naquele cinema, me senti dentro do filme O ano passado em Marienbad.
Mas o interessante é que, no mesmo dia que debatíamos, o INPI deferia a Indicação Geográfica (IG), como Indicação de Procedência, para o Queijo Minas Artesanal do Serro (MG). O Estado é, felizmente, um ente contraditório, cujos argumentos insustentáveis vão desmoronando aos poucos enquanto trança as pernas.
29/09/2011
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3 comentários:
Dória, explica uma coisa: como o Paladar conseguiu dar duas páginas inteiras para o assunto "queijos artesanais" e não dedicar nem uma mísera linha ao filme "O Mineiro e o Queijo"? E isso bem na semana de estréia nacional do filme. Foi descuido ou o quê? Ou será que eu não li a matéria direito?
Abraços de um leitor fiel de seu blog.
No dia 08 saiu uma boa resenha de Janaina Fidalgo no Paladar, de sorte que o filme não passou em brancas nuvens. Além disso, ano passado, algumas partes do filme foram exibidas no Paladar - Cozinha do Brasil. Tenha isso em conta para um juízo mais correto.
Abraços
Valeu pelos esclarecimentos. Abraços
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