09/10/2017

Veja como a prefeitura quer transformar o lixo em comida dos pobres


O milagre da multiplicação dos pães tem sua versão joão-doria-junior. 

A Plataforma Sinergia, um think tank de orientação cristã, auxiliou, em 2013, a apresentação do projeto de lei do Deputado Arnaldo Jardim que ”Institui e estabelece diretrizes para a Política Nacional de Erradicação da Fome e de Promoção da Função Social dos Alimentos - PEFSA, fundamentada em uma sociedade fraterna, justa e solidária”. Segundo ele, “a função social dos alimentos é cumprida quando os processos de produção, beneficiamento, transporte, distribuição, armazenamento, comercialização, exportação, importação ou transformação industrial tenham como resultado o consumo humano de forma justa e solidária”.

Agora, no domingo (8), a Prefeitura de São Paulo anunciou que acaba de conveniar com a Plataforma Sinergia um programa chamado “Alimento para todos”. É uma daquelas tais parcerias com o setor privado que vem diluindo o poder público dia após dia.

Segundo a Prefeitura,  a iniciativa “prevê a destinação de todos os tipos de alimentos de boa qualidade e dentro do vencimento para a produção do Allimento, um granulado nutritivo que será entregue às populações que enfrentam carências nutricionais no município”. Já segundo a Sinergia, que tem como executiva Rosana Perrotta, ex-Monsanto e ex-Controller na Mead Johnson Nutrition - o programa visa estabelecer:
  • um sistema de  beneficiamento de alimentos  que não são comercializados pelas indústrias, supermercados e  varejo em geral. São alimentos que estão em datas críticas de seu vencimento ou fora do padrão de comercialização, produzindo com eles a FARINATA (rebatizado agora como Allimento).
  • FARINATA é 100% doada às populações que enfrentam a fome, aquelas que se enquadram nos diversos graus de insegurança alimentar ou atingidas por catástrofes naturais ou humanitárias. 
  • “É uma excelente nutrição pronta para o consumo”, totalmente segura e pode ser utilizada em sopas, pães, biscoitos, entre outros. 
  • além do mais é uma solução ambiental para os alimentos no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
Em síntese: será coletada a sobra de alimentos de vários pontos de distribuição e comercialização, montada uma fábrica para fazer dela uma gororoba granulada para ser distribuída aos pobres. Além disso, o consumo da gororoba chamada Allimento ajuda a solução ambiental no âmbito da Politica Nacional de Resíduos Sólidos - nome pomposo para a disposição final de lixo orgânico. Esses novos biodigestores - os humanos - poderão ainda fazer pães, bolos, sopas, com a gororoba, antes de dar-lhe nova destinação final…a do cocô.

Uma solução engenhosa, com muita tecnologia diz a Prefeitura, e que conta com o beneplácito cristão como se vê no site do think tank. Uma solução bem ao estilo joão-doria-junior que tratará de pôr goela abaixo daqueles movidos pela fome o que antes era um problema de tratamento de lixo orgânico.



Convenhamos: o dispêndio de dinheiro público num programa mirabolante desse, ainda mais desumanizador das pessoas em condição de pobreza, bem que necessitava uma discussão publica ampla.

Por exemplo, discutir o direito do cidadão de ter acesso a uma alimentação saudável, em suas formas naturais (frutas, legumes, verduras); discutir que as coisas que come tenham um sabor natural, distinto em cada produto; discutir que os cidadãos sejam tratados como iguais também face à alimentação.

Este projeto representa a quintessência do nutricionismo alienado e alienante. Todos os produtos orgânicos possuem nutrientes, é claro. Mas a forma humana de comer requer “comida com cara de comida” (Michael Pollan), e é esta condição de coisa culturalmente dada que transforma o comedor em cidadão; não os nutrientes de ração.


A fome desumaniza. Jonathan Swift, que era  deão da catedral de Saint Patrick, em Dublin, o demonstrou em Modesta proposição (1729), peça imortal de sátira política que sugere, como solução dos problemas da fome na Irlanda, que os aristocratas comessem crianças engordadas para esse fim, ao invés de leitões. 

O horror que a idéia provoca dignificava mais os cristãos do que o vergonhoso apoio que dão ao programa “Alimentos para todos”. Além disso, em vez de discursos pseudo-edificantes, o prefeito que se traveste de gari deveria inaugurá-lo mostrando que é "para todos" mesmo, “batendo” um rango legal feito  com o seu Allimento


13 comentários:

Maria Helena Ferrari disse...
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Léo disse...
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Anônimo disse...
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Clau Gavioli disse...
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Alberto Guedes disse...

O Ricardo Young teve como vereador um PL aprovado em primeira instância referente à utilização de alimentos descartados pelos restaurantes no ano passado. Não sei como prossegiu o processo na Câmara dos Vereadores. Vcs viram alguma sinergia com isso?

Anônimo disse...

Isso é certamente um experimento da Monsanto que esse FDP está ajudando a promover.

Anônimo disse...
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Unknown disse...

😢😢😢

Anônimo disse...

Claro....bolsa familia não pode, é esmola, mas transferir capital pra empresa privada alimentar os pobres com lixo orgânico como quem alimenta o gado pode...

Beth Brunetto disse...

Se estivéssemos em tempos de guerra, ou vivenciando uma catástrofe natural ou até mesmo guerra civil ou conflitos entre etnias, e sem condições de alimentar dignamente a população, vá lá distribuir ração, sopas, etc. Mas propor distribuir essa gororoba para dirimir o problema da fome
neste país, tão cheio de riquezas, de alimentos, de terras produtivas. Faça-me o favor Senhor Dória. Garanto que ele não daria esse composto nem para seus cachorros.

BASSI disse...
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Anônimo disse...
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Flávia disse...
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