25/03/2009

Etnografia culinária e etimologia tupi


De onde tirar o conhecimento histórico-etnográfico das coisas de comer do Brasil? Como perseguir as pistas de uma história milenar de apropriação da flora para usos culinários?
Etimologia é o estudo da origem e evolução de uma palavra. Às vezes são coisas remotas, que deixaram marcas na língua, fragmentos das coisas que nomeia ou nomeou.
O bacupari (Rheedia gardneriana) é fruto de uma gutífera, bagas amarelas, grandes, carnosas como pêras e de suco corrosivo. Mas o seu nome (de mbacua, mbari) quer dizer “assar”, o que o torna comestível e agradável. O mandacaru (Cereus geometrizans) é uma cactácea com frutos comestíveis, mas que fazem a urina vermelha. Seu nome quer dizer: mamá, contorcido; a, fruto, carug, urina. Outras palavras de origem tupi que nos falam um pouco das coisas que nomeiam:
Araçá – o que tem olho
Araçápiranga – araçá vermelho
Ubuçu – comida grande
Catuabacatu, bonito, agradável; aba, onde há
Guabiroba – arvore de casca amarga
JaracatiáYa, o que parece; araquarê, cabaça arredondada; á, fruto.
JeticúcuYeti, batata; cupu, que refresca.
Macaúba – palmeira de fruto amarelo
Será obrigatório ter sempre à mão o Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi (Antonio Geraldo da Cunha, São Paulo, Melhoramentos/Usp, 1989). Mas não será o suficiente. É necessário mergulhar na história alimentar dos índios para saber, por exemplo, que pindaíba (Xylopia amarginata) não é apenas uma árvore de palmeira (pindá, palmeira; iba, arvore), mas que é uma anonácea que tinha sementes utilizadas como condimento para apimentar.

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