08/03/2009

Restaurant week

Em curso, a restaurant week (semanona de 15 dias!) é oportunidade para quem não tem o hábito ou possibilidade de percorrer a cena gastronômica paulistana. Pode-se conhecer, por exemplo, o excelente Picchi Restaurante, de Píer Paolo Picchi, dono de um curriculum invejável, de uma formação técnica impecável e de uma cultura gastronômica rara e que, no entanto, não é lá muito badalado. O perfil discreto do proprietário se reflete no seu marketing de sorte que, para quem vai lá, é sempre uma tremenda "descoberta pessoal" (isto é, com rara indução por parte da midia). Há dois anos perguntei pro Alex Atala onde ele achava que se comia a melhor massa em São Paulo: “no Picchi, sem dúvida!”.
Come-se mesmo muuuito bem! O fato é que se trata de uma casa sem frescura, sóbria, elegante, onde se percorre um cardápio bem montado, mais para o clássico não-óbvio, e que ousa apresentar coisas que estão fora do foco da chamada “alta gastronomia”, como um prosaico filé a parmigiana. Mesmo em dias normais não está entre os "caros" e oferece um excelente almoço executivo - ou seja, uma das melhores relações "preço-qualidade" de São Paulo.
Bom, a restaurant week significa casa cheia, como tantas que visitei no inicio dessa longa semana de 15 dias. Um público diferente, sem dúvida: predominantemente feminino, ofuscando a dominância dos executivos engravatados. Funcionárias administrativas de escritórios se deliciando com a possibilidade de, momentaneamente, escaparem da fatalidade dos “quilos” para participar daquele mundo mágico de que ouvem falar sem poder experimentar.
Os donos de restaurante não sabem qual será o resultado permanente desse trabalho. Vêem com ceticismo a “formação de público”. Seja como for, mais de 100 restaurantes integram esse roteiro passageiro. É de se esperar que a “casa cheia” seja objeto de reflexão para todos. Há um problema sério de renda do público, coisa que o evento desnuda com clareza. Menores preços significariam maior freqüência.
O modelo de negócio precisa ser ajustado, pois a crise no segmento talvez seja inevitável. Ela já é sentida nos Estados Unidos, com forte queda nas vendas. Como já disse aqui, em outro post, há muita gordura naquilo que se gasta para freqüentar um restaurante: estacionamento, couvert, preço da água e assim por diante. Usualmente, quando você começa a comer, já gastou mais do que os R$ 26 do almoço da restaurant week.

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