16/04/2009

A refeição infantil


Para as crianças, chupar jabuticaba no pé é coisa que ficou para trás. Então, deixando de lado o proustianismo de caipira, como é que uma criança chegará a gostar de jabuticaba? Talvez se lhe dermos uma baciada da fruta enquanto assiste à TV.
Cerca de 70% dos brasileiros têm o hábito de comer enquanto assistem à TV. Além disso, sabe-se que as refeições formais – almoço, jantar – se esfacelaram no normal da vida. É uma coisa cada vez mais rara na sociedade urbano-industrial que pais e filhos se reúnam em torno do comer.
É lógico que a socialização alimentar fica cada vez mais por conta da TV e da escola. Pela TV entram os porkarito's. E pela escola? O lanche, a merenda, que as próprias crianças acham que é algo que “atrapalha” o recreio, o brincar, conforme interessante artigo de hoje de Rosely Sayão na Folha, caderno Equilíbrio.
O tipo social do comedor solitário vai se consolidando pouco a pouco, mais por desinvestimento daquilo que antes regulava a interação alimentar do que qualquer outra coisa.
A escola pode ser um terreno importante de socialização alimentar? Teoricamente sim. Não é por acaso que tem surgido instituições como esse objetivo, como a Fundación Alicia, ou a Fondation science et culture alimentaire, da Academia de ciências da França e dirigida por Hervé This.
O obtuso poder público brasileiro ainda não se deu conta de que precisa ocupar um espaço expressivo nesse terreno para melhorar a vida alimentar das crianças. Para o nosso Estado, comida ou é nutrição, ou folclore ou frescura. E há também as mentiras que, descaradamente, difunde, como a idéia de que apóia o turismo gastronômico como forma de desenvolvimento local: não há sequer uma citação sobre gastronomia ou alimentação no Plano Nacional de Turismo.
A indiferença alimentar é a pior atitude em relação às crianças. Ou acreditamos que elas serão pessoas melhores ao se concentrarem no português e na matemática, fazendo do lanche um momento de indesejada desconcentração que interrompe qualquer forma de aprendizado útil?

1 comentários:

Breno Raigorodsky disse...

Sugiro sopa de letras para ser servida nas aulas de gramática

Postar um comentário