Curioso. Enquanto, ontem, discutíamos aqui o tipo de crítica gastronômica necessária, o Supremo Tribunal Federal derrubava a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Na argumentação, o relator, ministro Gilmar Mendes, sustentou que "um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área".
Disse que para ser jornalista, ou cozinheiro, não é necessário diploma. O diploma só é necessário em profissões que exigem o domínio de "verdades científicas".
Pessoalmente acho que a temperatura em que ferve a água é uma “verdade científica”, e se o cozinheiro não dominar isso não será um “excelente chefe de cozinha”. Mas o ministro devia estar falando de medicina, e não vamos perder tempo com isso...
Jornalismo e culinária estão fora do campo das “verdades científicas”? Talvez o que os aproxime seja o empirismo. Não há a “teoria” no jornalismo. Nem da culinária. Um amigo, hoje conhecido jornalista e que foi meu colega de faculdade, dizia na intimidade que jornalismo era um curso de “nível médio”; quer dizer, havia que se procurar a cultura em outra parte. A culinária é a mesma coisa. Hervé This sugere a física e a química como conhecimentos úteis à culinária. Outros sugeririam história, sociologia, antropologia, além de fisiologia humana, etc.
O fundamental, para jornalismo e culinária, é estabelecer um ponto de vista a partir do qual se observa os fenômenos. O empirismo do cozinheiro dificulta isso tanto quanto a suposta objetividade do jornalista, que acredita que os “fatos” existem de modo absoluto e lhe cabe relatar.
Seria útil se os jornalistas soubessem a diferença entre “narrar” e “descrever”. Se soubessem situar o leitor dentro do drama culinário, o que é diferente de se aproximar dele como se fosse uma paisagem ou adereço. Mas isso é teoria literária e eles acham que não diz respeito ao domínio do jornalismo e, muito menos, do jornalismo culinário que pretende “descrever os fatos o mais objetivamente possível”. Deviam ler Zola, Balzac, Tolstoi, atentando para as diferenças. Descobririam muita coisa útil para si e para o leitor.
Ok, surgirão agora, nos jornais, falando de gastronomia, físicos, químicos, psicólogos, historiadores. Mas continuará sendo fundamental ter uma teoria sobre a gastronomia e conhecer as formas do discurso literário.
18/06/2009
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