05/06/2009

O longo caminho em direção ao terroir

O conceito de terroir é muito sedutor. Mas aquilo que poderia se adequar a ele nem sempre o é. Há um longo caminho entre intenção e gesto. A região da quarta colônia, no Rio Grande do Sul, é um exemplo.
A partir de 1875 começaram a chegar as primeiras levas de colonos italianos na Província do Rio Grande do Sul. Formaram as colônias de Campos dos Bugres, Santa Isabel e Conde d´Eu – hoje, respectivamente, Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves. Depois dessas três colônias, o senador gaúcho Silveira Martins conseguiu, junto ao Imperador, uma nova leva de italianos para povoar a serra de São Martinho. A nova colônia – conhecida como “quarta colônia” – chamou-se, inicialmente, Cittá Nuova e, depois, Silveira Martins. Eram italianos vindos do Veneto.
A cidade de Silveira Martins, que faz fronteira com Santa Maria, tem 2.571 habitantes, segundo o IBGE. Mas já chegou a ter 25.000. Era o núcleo de uma vasta região, hoje composta por vários pequenos municípios: Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Polesine, Ivora. Essa divisão municipal veio com a Segunda Guerra, sob o Estado Novo, para “enfraquecer” o núcleo italiano. Dali saíram os italianos que foram para Santa Catarina e Paraná, para a fronteira com o Uruguai e, hoje, saem os seus descendentes que vão para a Amazônia. Na região, foi só Santa Maria que cresceu. Silveira Martins parece, hoje, uma cidade fantasma. Nos campos da região, vê-se especialmente velhos. Os jovens foram os que migraram.
Apesar disso, um ex-prefeito visionário resolveu mobilizar o potencial agroalimentar da região para transformá-lo em atrativo turístico. Ele organizou uma associação de nove municípios para fomentar o turismo. E estimulou uma cooperativa de produtores artesanais que conta com 250 artesãos que produzem embutidos, 30 produtores de cachaça e 10 produtores de “graspa” (corruptela de grappa), além de inúmeros outros que fazem “chimias” e geléias. Ele mesmo abriu um restaurante bastante sofisticado para a região. A Osteria Val de Buia foi instalada no imóvel-sede da hospedaria dos imigrantes, uma casa de pedra, totalmente restaurada.
A osteria não existe mais. Durou dois anos. E o visionário não é mais prefeito. Mas os artesãos e sua cooperativa continuam. Visitei alguma coisa. Especialmente o frigorífico artesanal, responsável pelos embutidos mais prestigiados da região. De cara ele pecava pela falta de higiene e limpeza. Por isso e por outras razões, não possui SIF. Por isso não consegue vender para fora do estado. Por isso a tendência é mais de minguar do que crescer, embora o mercado esteja ávido por produtos de terroir.
Mas encontramos lá um professor da UFSM, José Lannes, responsável por um projeto de articulação do artesanato agroalimentar com o mundo “além porteira” das propriedade rurais, já quantificadas em 148. Será o campus avançado da universidade em Silveira Martins. Há esperança portanto! Voltarei a esse assunto.
(Foto: Adolfo Gerchmann)

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