Identidade
Luis Américo especula sobre identidade, perguntando a quem ela serve.
Dei uma entrevista para o Diário do Norte do Paraná, mas ele suprimiu uma resposta que pode dizer algo sobre essa discussão. Ei-la:
Pergunta (DNP): Assim como nas diferentes fases de colonização européia, hoje vivemos outro momento de aproximação com outras cozinhas. Enquanto um dos maiores patrimônios dos franceses é a culinária tradicional, a nossa aceita toda essa diversidade de influências. Quais seriam os pratos, modos de preparo ou ingredientes, que poderiam compor nosso patrimônio gastronômico?
Resposta: O patrimônio gastronômico de um povo é o que ele efetivamente come e aprecia, independente da origem. Assim é conosco. O que comemos hoje é o nosso patrimônio, embora não saibamos bem, pois faltam estudos e estatísticas. O que se origina no passado só vale gastronomicamente se é ainda ativo. Se não se fazem determinados pratos, determinadas receitas, então esse patrimônio não serve para nada gastronomicamente. As idéias de “resgate” são uma bobagem. Servem apenas para um tipo de historiadores, antropólogos, folcloristas, sociólogos, ganharem a vida fazendo teses, congressos, propondo projetos para o poder público ou para empresas que se beneficiam disso em termos de marketing.
23/09/2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Doria,resgate é uma bobagem.
Mas "a genética" das receitas ou dos ingredientes isto é, aquilo que refere-se à historia passada da receita ou dos ingredientes não teriam um importante sentido de continuidade para a gastronomia? não será um amálgama ? de passado e presente ali juntos? quando não uma reconstrução, ao menos uma ligação existe, o passado está vivo de alguma maneira no presente não?
"o que se origina no passado só vale gastronomicamente se é ainda ativo".
Não seria ativo mesmo que negado? o negado e ultrapassado é que permite que algo novo se construa!
Pois ai é que está, Cris. Eu acho que são coisas distintas: a história usa o texto da receita para se esclarecer; a culinária é o processo de transformação material. Como "comiam" não determina como "vou comer". A ligação que existia foi aquela que, talvez, se perdeu para que outra se estabelecesse. Agora, os ingredientes estão ai, para serem reinterpretados no jogo lúdico da gastronomia.
Bem, "negado e ultrapassado" não é mesmo que "nada". Esta alí, como contraponto. Como as palavras fora de uso num repertório de dicionário.
E ainda tem gente que quer registrar receitas, pois estive presente em uma discussão desse tipo e me levantei pela metade. O resgate é "para inglês ver", tem cunho instrumental e deriva de interesses que muitas vezes estão bem menos preocupados com a preservação.
Janine, esses bombeiros da cultura, os resgatadores, só tem atrapalhado as discussões que importam sobre patrimônio (seja lá o que se entende por). Por exemplo, a discussão sobre a opressão do SIF sobre os produtos artesanais brasileiros (queijo minas, enbutidos, meles de abelhas nativas, etc etc etc).
Postar um comentário