O Saul se foi. Não é uma perda para a enologia, mas para a espécie humana. Só tenho lembranças dele ligadas à generosidade, e esta é a coisa mais ameaçada nos dias que correm.
Há mais de 20 anos, quando abrimos o Danton, ele fez uma crítica super generosa para um estabelecimento que tinha à frente um punhado de amadores, sem qualquer experiência no duro ramo da restauração. Hoje acho que este era o seu estilo de crítica: sempre apostar que, ao indicar as coisas boas, se reforça o caminho como deve ser; e acreditar que o que ainda não está apurado melhorará com certeza. Diante do que não gostava, preferia calar.
Logo se tornou um amigo e passou a freqüentar o Danton todo fim de noite. Se sentia bem ali, e nós com ele. Eram conversas intermináveis, noite adentro. Era grande o seu entusiasmo ao falar da nouvelle cuisine. Foi ele que me convenceu a fazer um curso, ainda que para amadores, no Roger Vergé, em Mugin, que era uma Meca das novas gerações da gastronomia. Foi um curso que me abriu a mente, pois percebi que gastronomia é uma coisa intencional, não um fluxo que vem uniforme da noite dos tempos até o presente, e devo isso a ele para sempre.
Depois que se tornou crítico de vinhos não nos vimos com tanta freqüência. A ultima vez que o encontrei foi por acaso, na rua, em Madrid, na época do Madrid Fusion 2005. Estávamos Paulo Martins, Tânia e eu. Foi muito afetuoso, conversamos gostosamente. E fico com essa lembrança indelével de um homem do bem.
09/09/2009
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