15/01/2010

O físico e a cerveja – II

Em texto contundente, Rogério Cerqueira Leite volta ao tema da cerveja, que havia abordado anteriormente (18/12/2009).
Agora, ele refuta o crítico daquele texto, que acusa de pau mandado da AmBev. Todos sabemos que a razão está do lado do físico, mas por que as editorias de culinária e gastronomia de todas as mídias se omitem sobre o assunto?
Para quem não tem acesso ao texto de Rogério Cerqueira Leite, aqui vai:


Cerveja: o orgulho de quem fatura mais ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE



EM TEXTO anônimo, assinado por um certo Silvio Luiz Reichert e intitulado "A cerveja e o orgulho de quem faz o melhor" (30/ 12), a multinacional de capital estrangeiro Anheuser-Busch Inbev, proprietária da AmBev, responde ao meu artigo "A cerveja: bebendo gato por lebre" (18/12/09).
Entretanto, não responde à principal acusação, a saber, o engodo de que foi vítima o governo e o povo brasileiro pela fusão Antártica-Brahma, quebrando princípios e a legislação contra a formação de cartéis com a desculpa de que, fundidas, poderiam enfrentar a competição com multinacionais -para ser o cartel, em seguida, absorvido por empresa estrangeira. Também não foi explicada a prática perversa de coação a cervejarias nascentes para depois absorvê-las e aniquilá-las ou banalizar seus produtos. Pois bem, a mentira tem muitas faces, como se vê em seguida.
1) Maranhão, mentira bem urdida (padre Vieira, "Quinto Domingo da Quaresma"). Diz o echadiço que "a maior parte do malte utilizado pelas grandes indústrias, algo em torno de 65% ou mais, é importado. Mas isso não entrou na conta do autor". Ora, ou o trombeta não sabe ler, ou é intelectualmente apoucado, ou é mal-intencionado, ou os três, pois foi exatamente com a soma da cevada produzida no Brasil com a importada que foram feitas as minhas contas.
2) Patranha, mentira para tolos, crédulos. Afirmei e reafirmo aqui que a taxa de conversão da cevada em álcool é de 0,216 L/kg, e de milho em álcool é de 0,388 L/kg. E o sofista responde com as taxas de rendimento "na composição do extrato originário", o que nada tem a ver com conversão em álcool. Os dados, em todo caso, podem ser encontrados por exemplo no estudo "Culturas energéticas e o etanol", de Tiago Mateus. O leitor interessado também pode encontrar os dados de importação e exportação em www.cnpt.embrapa.br ou www.quercus.pt e com isso repetir os meus cálculos. Cuidado, deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), pois está sendo ultrapassado desavergonhadamente em seu recorde mundial.
3) Inverdade, eufemismo (Machado de Assis, "A Semana"). Diz o buzina que "as cervejarias brasileiras de primeira linha não usam conservante (...) porque é ilegal". Será que a legislação brasileira é diferente para cervejas de segunda linha? E quais são as cervejas de segunda linha que, de acordo com a legislação brasileira, podem legalmente intoxicar os brasileiros com conservantes?
4) Embuste, quando é calculada para enganar. Diz o passavante que conservantes não são usados por serem desnecessários. Então para que servem o antioxidante INS 315 e o estabilizante INS 405, como se lê em letras miúdas de quase todos os rótulos de cervejas da AmBev e das demais cervejarias nacionais? Será que a mudança de nomenclatura de "conservante" por seu sinônimo, "estabilizante", satisfaz o legislador brasileiro? Será que o sarabatana estaria chamando o brasileiro de analfabeto, incapaz de ler o rótulo, ou de idiota, pois incapaz de entender o que lê?
5) Patarata é mentira com basófia, ostentação. Diz o estafeta que o lúpulo que é usado no Brasil vem da Alemanha e dos EUA e, portanto, é tão bom quanto o usado naqueles países.
Mais uma vez ofende a inteligência do leitor da Folha e do brasileiro em geral. Importamos vinhos de excelente e de péssima qualidade da França, da Itália etc. Os de baixa qualidade são mais baratos. Importamos bons e péssimos filmes dos EUA.
A diversidade da qualidade do lúpulo alemão é, reconhecidamente, enorme. As cervejas americanas são quase tão "leves, refrescantes e digestivas" e homogeneamente banais quanto as brasileiras. Que o leitor experimente uma dessas vulgares cervejas americanas. (Aliás, se alguém precisa de digestivo, é melhor tomar sal de fruta Eno do que cerveja da AmBev. E o gosto não é muito diferente). Então por que as boas cervejas belgas, inglesas e alemãs que usam lúpulo de boa qualidade não precisam de antioxidantes e estabilizantes?
6) Intrujice, quando se abusa da credulidade de fraternos. E, agora, o maior dos sofismas, o abuso repugnante de um sentimento de brasilidade dentro da mesma técnica que a AmBev elabora suas indecorosas propagandas televisivas, que induzem o cidadão desavisado a consumir suas cervejas pela associação com objetos de desejos primitivos: carros de luxo, mulheres seminuas, fartos banquetes, ou seja, a peta da promessa de sucesso.
Os pífios argumentos do recadista apenas comprovam o baixo nível ético da empresa que o emprega.

1 comentários:

Leo Beraldo disse...

Dória,
Acredito que as editorias se omitem porque as empresas cervejeiras são grandes anunciantes, um grave desrespeito com o consumidor, o maior interessado.
Parabéns por trazer esse assunto à tona.

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