Recebi do Roberto Smeraldi o seguinte comentário por e-mail:
Conforme alerta Dória em seu excelente post sobre os "Júlio Neves da gastronomia", cada povo merece seus restaurantes, desde a comida até a conta. Está claro que ao fulano da Cherokee só interessa o status, e portanto ele ficaria desestimulado por qualquer preço um pouco menos exagerado - como é o caso da Restaurant Week. E, claro, esta é a razão para que determinados restaurantes não adiram à promoção. Mas o que não está claro é em que medida os demais, aqueles que se interessam pela promoção - nos quais em tese me incluiria - também "mereçam" os menus propostos.
Uma rápida indagação pela lista aponta para uma espécie de semana do brega. Para fazer jus ao estrangeirismo que caracteriza os menus - e que consegue às vezes ser mais barato que os mesmos - poderíamos chamar ela de "semaine do parvenu". Ou melhor ainda, para salpicar umas duplas consoantes que sempre soam chique, tal qual uma gota de vinagre balsâmico: "parvennu", mais em linha com o padrão ortográfico dos menus em questão. Em suma, os caras de Corsa parecem só esperar o momento em que poderão se endividar para comprar um Cherokee em oitenta prestações. Os chefs parecem entender isso muito bem, e desenham sua promoção para épater le bourgeois.
O imperativo é parecer gastronomia. O "copismo" se torna caricatural. As junções de ingredientes parecem oriundas de uma lotérica. Estamos, com algumas óbvias exceções, na antessala do bunker da Cherokee.
Triunfam sushi de abóbora e carne seca, carpaccio de tilápia (esta parece a última onda), mousse de salmão, risotto de mandioquinha, pesto de rúcula, bruschetta de camarão. Ah, em tempo: pode-se usar tais ingredientes em quaisquer combinações possíveis, pois tanto faz. E sobre todos eles, reina soberana a tartare de pupunha, item em súbita proliferação (na realidade querem dizer de palmito de pupunha, pois a pupunha eles desconhecem, obviamente).
Não encontrei um arroz e feijão, uma massa ao sugo de tomate ou à bolonhesa, um cozido, uma moqueca, uma rabada, um minestrone, um tempura, um polvo à galega, um chile com carne, um broccoli alho e óleo, um brasato de vitela, um bife à milanesa, uma abobrinha recheada, uma garoupa assada, um arroz à banda, um cous-cous, um mole poblano, uma chicoriazinha refogada. Se por acaso tiver um, está bem escondido. Nem pensar em gnocchi de batata, ou nhoque que seja, mas em suma, de ba-ta-ta! Nada. Talvez de banana e gergelim, com molho de wasabi desconstruído e acompanhado de sufflé de lichia à bourguignonne...
Na época dos regimes comunistas, circulava aquela piadinha pela qual aos militantes vermelhos ocidentais mais ativos se ofereciam prêmios: ao primeiro uma semana em Moscou e Leningrado, ao segundo, duas semanas em Moscou e Leningrado, ao terceiro, três semanas... que tal fazer o mesmo com muitos menus da Restaurant Week? Ou será que eu mereço?
Roberto Smeraldi
02/03/2010
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