05/03/2010

A turma da água

- Que água o senhor prefere? San Pellegrino, Perrier ou... São Lourenço?

- Qual o senhor toma? – pergunto ao garçon.

- São Lourenço...responde sorrindo.

- Exatamente a que vou tomar também!

Não agüento mais esse diálogo e, ontem, tive que estabelecê-lo duas vezes, em casas diferentes.

Na primeira, pedantismo e petulância não iam longe não. Pedimos, para dividir, dois pratos. Polenta com ovo mole e risoto milanês com costela cozida ao vinho. Acho que repetimos a palavra “dividir” umas 10 vezes no diálogo com o garçom, deixando claro que queríamos dois ovos, pois não há como dividir ovos moles.

E não é que os pratos chegaram os dois juntos, sem divisão, e com um ovo mole extra, numa cumbuquinha??? Ovo mole extra é o que resultou do diálogo insistente!

E o que você espera de um risoto dito milanês? Ao menos que seja amarelo, não é? Nem espero que seja açafrão, pois já comi muito que vem só amarelo, com curcuma, mantendo o nome evocativo. Pois não é que o risoto veio na cor pálida do arroz arbóreo, misturado com a costela desfiada? Eu, que esperava um risoto com açafrão e uma costela cozida ao vinho, regada ao molho, no lugar do ossobuco, fiquei decepcionado. Mas por que eu estava esperando uma coisa diferente?

De sobremesa um brownie com creme ingles e sorvete de baunilha. Apesar da redundância entre o creme e o sorvete (são exatamente a mesma coisa!), ainda conseguiram errar: o creme mais parecia um leitinho amarelo; o sorvete, se não era Kibon, era primo do Kibon.

Isso tudo ali, na rua Mato Grosso, numa casa bonitinha, moderninha, recém inaugurada e que constará nos guias em breve. Amadorismo de serviço, amadorismo culinário. Gente que parece ter vindo ao mundo para vender água e que nem sequer acredita no poder refrescante de nossas águas, nem em Iemanjá...

4 comentários:

Patricia Pê Lopes disse...

Dória,
É exatamente isso que tenho lido sobre os restaurantes de Sao Paulo... Casas moderninhas, lindos projetos arquitetonicos, gente bonita circulando, garcons cada vez mais "letrados" e informados sobre as novidades gastronomicas. Mas a comida? Está em segundo plano, me parece... Esses lugares nao deveriam ser chamados de restaurantes que deveria ser exatamente o contrario, um lugar para a restauracao do comensal.

Anônimo disse...

Onde estava o ovo mole há 2 anos atrás???
É o novo risotto com rúcula e tomate seco?

COMIDA FALA - Karen Monteiro disse...

Dória, consigo "ver" a "cena"... morri de rir... Meu amigo, está cada vez mais complicado tomar água no país da Iemanjá (ou no país abençoado por Deus e bonito por naturezaaaaa... (hahahahaha)!!! Meu primeiro chef-professor avisou: PERIGO, AGORA IR AO RESTAURANTE FICARÁ MAIS COMPLICADO!!! E ficou, meu amigo... bem mais complicadooo!!! beijos...
Karen (ao Sul do Sul)
www.comidafala.blogspot.com

Janine Collaço disse...

Bem, talvez a água fizesse toda a diferença em um caso clássico de piroctenia em detalhes menos importantes para desviar a atenção daquilo que de fato deveria marcar a refeição, a comida...
Tempos de bistromania e cozinha de autor. Dá-lhe salmão, cupcake, carpaccio de qualquer coisa e produtos locais (de onde? Só para lembrar). Dá para fazer algo simples mas com alma? Parece que está cada vez mais difícil.
Abraços
Janine
P.S. Karen, saudades!

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