14/04/2010

O rapé ou o charuto fazem parte da gastronomia?

Arrumando umas gavetas, topei com umas latinhas de rapé. Aromas de cravo, mentolado, canela e outro, dito “especial”. Mas topei também com uma dúvida: pode o rapé fazer parte da gastronomia?

Foi um hábito herdado dos índios, que se praticou entre brancos até início do século 20. Assim como comer formigas em São Paulo. Ainda hoje existe a industria e comércio do rapé.

Em geral o rapé parte do fumo, mas não é obrigatório. Pode ser feito de várias matérias-primas. E já foi elegante cheirá-lo. Havia todo um ritual de salão que cercava o consumo de rapé.

Acho curioso que o que era considerado um prazer – espirrar – não o seja mais. Deve ter sido excesso de propaganda de remédios contra resfriado, fazendo desse, que pode ser um sintoma seu, um estado permanentemente indesejável. Mas tenho um amigo que invariavelmente espirra na presença de um bom chocolate. 

O rapé poderia vir a substituir o cigarro após as refeições, em tempos de patrulhamento. Pode ser de tabaco ou “desnicotinado”, a versão cheirável dos produtos “descafeinados”.

Creio que tudo que se organize em torno de uma refeição é parte da gastronomia. Como o charuto... e, por que não, o rapé?




2 comentários:

Nádia Lamas disse...

Oi, Carlos

Era o que eu dizer... no curso de gastronomia, um professor francês dizia que o charuto faz parte da experiência gastronômica de uma refeição. Assim, o rapé também deve fazer, né?

Nádia

André Damázio disse...

Olá, Carlos Doria,

No meu círculo de amigos, é comum tomarmos uma pitada de rapé após a refeição. Usamos um autoaplicador de origem amazônica chamado kuripe ou kuripi, e é uma sobremesa bem agradável.
Gastronomicamente, alguns rapés podem ser utilizados em receitas doces ou salgadas. No crème brûilée, por exemplo, pode-se salpicar um pouco de rapé de imburana ou de rapé de cumaru de cheiro (outra semente da família da imburana, só que maior) sobre o prato antes de levá-lo ao forno.
Em pudins de leite condensado ou pudins de leite ninho, pode fazer o mesmo antes de levá-los à geladeira.
Alguns rapé são feitos com erva-doce/funcho, os mesmo podem ser colocados em bolos e tortas doces.
Bolos de nozes, de amêndoas ou de castanhas ficam muito bons quando "temperados" com rapé de cumaru de cheiro.
O cumaru e a imburana têm fragrâncias muito semelhantes, e substituem muito bem a baunilha, com perfume um pouco diferente, mas extremamente agradáveis, e preço muito mais inferior.
Um pacotinho de imburana custo por volta de 2 reais (20 a 30 gramas). O cumaru já é mais caro, custa cerca de 1 real cada semente. Ambos podem ser encontrados em bancas de ervas e raízes e nos "mercadões municipais" Brasil afora.
Pratos a base de chocolate, como mousses, bombons e trufas também casam muito bem com o cumaru, podendo ser adicionado na forma de rapé, ou, compradas as sementes, torram-se, pilam-se até obter um pó, e usa-se conforme o gosto, para não ficar enjoativo.

Cordial abraço,

André

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