É incrivel, aconteceu ontem. A gente acaba pagando na carne o que escreve.
Era um pouco tarde, é verdade, e Pedro Martinelli e eu havíamos decidido “anistiar” o Restaurante Ravióli.
Espera de 45 minutos no Olea e de outros 45 minutos no Mani, enquanto o Ravióli não tinha ocupado sequer 25% dos lugares. Precisávamos fazer uma reunião com um terceiro amigo e a “anistia” apareceu como a melhor solução. E esse amigo nos fez prometer: “Vocês NÃO vão brigar, tá?”
- Tá!! Respondemos em uníssono.
Anistiar dois pequenos crimes de serviço: na primeira vez, o garçom cobrou no cartão mais do que a conta e veio à mesa, descaradamente, nos propor um “vale” para comermos noutro dia. Diante da negativa do Martinelli, ele disse:
- Mas assim eu vou ficar no prejuízo, vou ter que pagar a diferença.
E ouviu como resposta irritada:
-Dane-se! O erro foi seu, não meu, oras!!
Em outra oportunidade, me ofereceram os tradicionais pratos de presunto e de mussarela, de entrada. Aceitei o presunto, não a mussarela. Na hora da conta, estão os dois lá:
-Maitre, por favor, não consumimos a mussarela. Será que o senhor pode mandar corrigir a conta?
-Um momento, vou chamar o garçom que o atendeu. [E por isso eu pergunto: para que serve maitre? E ninguém sabe explicar...]
E lá vem o camarada, montado na seguinte e inacreditável frase:
- O senhor consumiu os dois sim!
-Eu não o conheço. Por que você está me chamando de mentiroso? Estou lhe dizendo que NÃO consumimos!!
-Ah, mas assim eu vou ter que pagar a diferença!
-Dane-se, oras !! Repeti mecanicamente aquela frase do Martinelli.
Mas resolvemos anistiar esses dois pecadillos. Por conveniência. Por um lugar para sentar e fazermos a reunião. A idéia original não era ir ao Ravióli. E levei um vinho – desses, de pechincha, que o Jorge Carrara indicou – para dividir com os amigos. Um sangiovese de R$ 29, inacreditavelmente bom para o preço.
Comemos medianamente: papardelle mais para papa; stracotto bom. Sobremesa, aquele tiramissu da capa da Gosto, lembra? Doce demais e com o chantilly já um tanto azedo. Na hora da conta: “rolha” a R$ 50. Sobre esse valor, mais R$ 5 de serviço. Nós haviamos prometido não brigar e cumprimos. Nem pedi que me mostrassem onde estava escrito no cardápio o valor da "rolha", como exigem as autoridades municipais para qualquer cobrança.
Já na rua fiquei pensando: por que os garçons do Ravióli são tão temerosos com o próprio bolso, a ponto de não conseguirem corrigir elegantemente as falhas naturais de serviço? Por que essa voracidade na cobrança da “rolha”, no caso muito mais que o valor do próprio vinho? Por que essa incompreensão da natureza do serviço “rolha”, cobrando serviço “em cascata” sobre ele? A seguir essa norma, deveriam cobrar também serviço sobre o ticket do manobrista...
E me ocorreu que talvez tudo isso explique, afinal, porque um restaurante de padrão médio, como o Ravióli, fique vazio na rua Joaquim Antunes enquanto os vizinhos “bombam”, com esperas de 45 minutos. Pela mesma razão, talvez, precise anunciar em revistas enquanto, para os demais, basta a divulgação boca-a-boca.
Por fim, fiquei me perguntando: onde, raios, se meteram os bichos que deixaram passar essa barbada crítica? Eles, esses Robin Hoods da mesa...
14/08/2010
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4 comentários:
Que horror, mesmo. Mas acredito que a falha maior, neste caso, é da direção do restaurante e não dos garçons temerosos com o próprio bolso! No mínimo, falta de treinamento, senão falha in eligendo. Gostaria de saber qual Sangiovese é este :-)
Caldora, o sangiovese...
Doria, satisfaça a minha curiosidade, por favor: por acaso é o Sangiovese irmão daquele Primitivo que há anos sugiro como substituto digno do A'Mano? É bem possível que seja porque o Jorge falou muito bem deste Sangiovese e o preço é este aí!
Quanto ao Ravioli: nunca tive problemas com o serviço, mas não duvido das absurdidades que você contou. Por elas, não ponho mais o pé lá.
Doria, valeu pelo alerta(apesar de não ir lá há séculos por razões semelhantes),valeu pela dica do Sangiovese e por mais alguém estar querendo saber:aonde andam os bichos?
Abraços
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