Importante matéria na Folha de ontem (Açaí conquista o mundo, mas se elitiza na Amazônia), onde se lê sobre o açaí: “A popularização do açaí no mundo está elitizando o consumo da fruta em sua terra natal, a Amazônia. Números divulgados recentemente mostram que, nos últimos 16 anos, ele se tornou um alimento caro -e isso pode indicar uma mudança profunda na identidade regional. Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o litro do açaí no Pará, que custava R$ 1,50 em 1994, subiu 650%. Hoje, chega a custar mais de R$ 11. Se tivesse aumentado no ritmo da inflação, estaria só em R$ 5,50”.
Isso significa que a população local já não pode consumir açaí como antes. "Podemos dizer com tranquilidade: o açaí não é mais o arroz com feijão do paraense", diz técnico do Dieese.
Historiadora citada na matéria nota que, nos últimos dez anos, metade das bancas avulsas que vendiam a fruta em Belém sumiu. "O consumo migrou para as grandes redes de supermercados. É toda uma tradição que está se perdendo".
Assim é que nascem aquelas coisas que, depois, um certo tipo de historiadores, sociólogos ou antropólogos dizem que é “preciso resgatar”.
Mas é apenas a “lei de mercado” agindo. O sudeste assumiu o açaí como alimento. Sua inserção na dieta é completamente outra. Isso pressiona o uso tradicional e acabará mesmo por suprimi-lo – dado o aumento de preços. Logo logo, seu consumo no Pará será apenas “simbólico”.
É uma boa questão para quantos lidem com a adoção e difusão dos produtos nativos na culinária brasileira que se quer renovar. O que deve ser uma expansão não pode ser uma expropriação do produto no seu habitat natural. Com a palavra os experts em “sustentabilidade”.
16/08/2010
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2 comentários:
Seria interessante ver uma pesquisa sobre essa trajetória das barraquinhas "sumindo" e o fruto "migrando" pro supermercado...
...E sobre quanto os produtores ganham hoje na venda do açaí pros intermediários que embalam e vendem no supermercado.
Alguém aí já ouviu falar do "Guaraná Power", aquele que foi censurado na Bienal de Arte em São Paulo?
Tem coelho nesse mato.
É importante destacar que a valorização da fruta do açaí é o principal fator para a preservação das florestas do Marajó. Este trabalho que começou em meados da década de 90 reverteu o quadro de corte indiscriminado do açaizeiro para a produção do palmito. Este é o primeiro e maior exemplo de como o manejo de produtos florestais não madereiros podem proteger a extração de madeira de lei simplesmente garantindo ao ribeirinho uma atividade econômica de maior valor. Valorizar a polpa extraída do fruto do açaí preserva e recupera a floresta. Em desenvolvimento sustentável é fundamental tentar enxergar sempre um pouco além do que está impresso.
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