Detesto festivais

Setembro e outubro são meses deles, mas nunca fui fã de festivais. Festival de alcachofras, de camarões, de lagosta, de morangos, de trutas e de trufas. Sim, mesmo de trufas, que adoro, como certa vez peguei (ou fui pego por) um em Città di Castello. Arrotei tartufo bianco por uma semana.

Topei outra vez um de ostra, em Florianópolis. Havia 15 tipos de ostras preparadas, até ostras gratinadas com parmesão. Dio mio! E o olhar decepcionado do garçom, quando recusei aquela cornucópia em nome de umas ostrinhas simplesmente ao natural?

Imagino também a decepção dos cozinheiros, procurando colecionar receitas apetitosas de trutas ao longo do ano, quando se dão conta de que, dentre todas as receitas, a grande maioria dos clientes escolhe...truta com amêndoas. Ou, então, risoto de alcachofra, escondidinho de alcachofra, mousse de alcachofra com coulis de rucula e, de sobremesa, marron glacê de alcachofra! Seria bom deixar a maior parte delas florir. Tão bela é a flor em seu azul profundo. Ou pegar um carro, ir até o Stefano comer umas alcachofras, precedendo o canelone.

Não, decididamente não se pode submeter quem esta na cozinha do restaurante à experiência dos festivais. É uma espécie de “vamos que vamos”, uma tentativa de faturar mais que parece aquela coisa de fazer o carro pegar no tranco. Por que a saturação monotemática poderia ser um atrativo? No fim de tudo, substitui-se a gastronomia pela glutonia.

Em matéria de variações sobre o mesmo, prefiro as “Variações sobre um tema de Paganini”, do Rachmaninoff.