09/12/2010

O terroir e sua determinação - III

Aparentemente, quem “cria terroirs” são pessoas como Michel Rolland. Isso porque ele é o maior “construtor de vinhos” e os vinhos são construídos em territórios delimitados, aproveitando-se as características desses como elementos de comunicação sobre o seu caráter. Mas, como ele diz: “Nessa bebida há, cada vez mais, universalidade, e alguns falam de globalização. Que pena que muitos não entendam nada do que está se passando: nunca houve tanta diversidade no bom gosto, na qualidade! Que não se goste de todos os vinhos é bastante lógico; é uma sorte que todo mundo não goste do mesmo”.

Estas afirmações são a contestação ao tipo de argumento que ouvi de José Peñin, o maior especialista em vinhos espanhóis, quando o encontrei em 2006. Ele me disse que os vinhos do mundo estavam ficando cada vez mais parecidos, exatamente pela ação modernizadora das bodegas, empreendidas por técnicos como Michel Rolland. “Recentemente promovemos uma degustação às cegas de 15 vinhos de várias procedências. Éramos cinco degustadores, todos com vasta experiência. Sabe qual a conclusão a que chegamos? Concluímos que apenas cinco daqueles vinhos, com certeza, não eram espanhóis!”, me disse em tom alarmado.

Peñin é um defensor dos vinhos espanhóis, e Michel Rolland um defensor dos seus negócios multinacionais de consultoria. Ele não pode mesmo admitir que todos os vinhos em que coloca as mãos se tornem iguais ou muito semelhantes; mas quase todo mundo no mercado de vinhos reconhece que existe um “estilo Michel Rolland” disseminado pelos quatro cantos do mundo.

Essa certeza é tão arraigada que, ao visitar uma importante vinícola espanhola à qual Michel Rolland começava a assessorar, a proprietária logo procurou me esclarecer sem eu haver perguntado nada: “Ah, mas o senhor Michel Rolland, por contrato, não vai mexer no estilo tradicional de nossos vinhos! Só vai nos assessorar na parte de marketing”.

Segue

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