14/02/2011

Gastronomia de rua



Faz parte da vida moderna esse “corte epistemológico” que separa os integrados aos mecanismos econômicos do Estado dos marginais, ou a dita “economia informal”. Uns são mocinhos, outros bandidos, dependendo do ponto de vista.

Pois acaba de surgir um livro interessante, de Sérgio Bloch, intitulado Guia Carioca da Gastronomia de Rua (Rio de Janeiro, Arte Ensaio, 2010). O livro vem acompanhado de um DVD onde estão depoimentos, muitos cheio de graça, dos personagens dessa culinária de rua. Desnecessário dizer que os mocinhos da publicação são os que estão à margem dos impostos e demais imposições estatais.

Sérgio apurou e registrou 19 “pontos” de alimentação informal, nas ruas do Rio de Janeiro, onde se vende de sushi a pipoca, passando por pastéis, pão de queijo, picolé, rosca, hambúrguer, tapioca, milho, bolinho de bacalhau, angu, empada e daí por diante.

De fato, a venda de “comida de rua” é uma atividade intensa nas metrópoles, onde infinitas pessoas comem algo rápido sem gastar muito. Raramente, porém, essa culinária merece uma atenção gastronômica.

Um grande preconceito em relação a ela diz respeito à higiene. Claro que a higiene possível é a higiene da cultura brasileira, mas o DVD mostra mais de um entrevistado de luvas e se recusando a pegar em dinheiro. “Não mexo com dinheiro”, diz explicitamente uma senhora, repetindo, sem saber, um conceito importante da vivência nobre dos primeiros colonizadores. Gente da nobreza não “mexia com dinheiro”...

É fundamental prestar atenção a esses nichos de comida popular. Eles nos dizem das preferencias, dos sabores e temperos que rolam por esse Brasil afora.

São Paulo bem que merecia um guia desses. Lembro de uma idéia concebida por Paulo Werneck, hoje editor da Ilustríssima. Anos atrás, ele pensou em fazer o “Menas!”, uma contrafação do “Mais!”, como um guia culinário de comida de rua, para distribuir nas bocas de metro. Não o fez, mas ainda é necessário se levar a sério essa sua intuição.

O livro de Sérgio Bloch mostra como essa empreitada, urgente, é factível e extremamente útil. Que muitos sigam o exemplo nas grandes cidades, pouco importando as imposições do Estado.

2 comentários:

Rubens Ghidini disse...

Essa história da luva seria cômica se não fosse trágica... Abraços!

Gastronomia de Rua disse...

Olá Carlos! Muito obrigado pela resenha carinhosa sobre o Guia. Também achamos que São Paulo merece o Guia Paulistano da Gastronomia de Rua, e esperamos realizá-lo em breve!

Um abraço!

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