No domingo, a ombudsman da Folha passou um pito no suplemento Comida. Quer dele mais criatividade, mais polêmica, mais sal, mais tudo. Parece entender que ele nasceu por imposição concorrencial, tornando-se o “Paladar da Folha”, conforme saudei seu aparecimento. Bem, mas num universo em que os jornais se movem pelo propósito de captar anuncios, como mais poderia ser?
Suzana Singer acha que a Folha demorou muito para lançar seu suplemento, permitindo ao Estado avançar na demarcação de terreno. A Folha até mesmo pagou o vexame de escarafunchar a lata de lixo do Paladar e tomar para si o que havia sido descartado: a seção “o desafio ao chef”. Critica também as capas fáceis, baseadas em efemérides. E diz que é preciso ampliar a turma dos 20 chefs que aparecem em toda parte. Enfim, faz a critica do óbvio, conforme o leitor de 5ª tem procurado mostrar.
A ombudisman acha que ainda é tempo de colocar mais tempero nesse caldo. Vamos ver. E para que os leitores de fora de São Paulo, não-assinantes, tenham acesso ao texto de Suzana Singer, ele vai reproduzido a seguir:
FRUGAL DEMAIS
Suzana Singer
O novo Comida segue fórmula conhecida, com boas fotos, receitas e elogios, sem surpresas
FALTA PIMENTA ao novo caderno Comida. Lançado em maio passado, o suplemento nasceu para fazer concorrência ao "Paladar", do "Estado de S. Paulo", que também circula às quintas-feiras.
Não é uma missão fácil: já estabilizado, o "Paladar" soube explorar esse frenesi gastronômico que tomou São Paulo nos últimos anos. Parece que todo o mundo que tem dinheiro e tempo de sobra quer aprender a cozinhar, entender de vinhos e conhecer os lugares "imperdíveis" aqui e no exterior.
A Folha já se havia aventurado nessa seara com o pioneiro "Comida", homônimo do atual, editado por Josimar Melo entre 1988 e 1991. Era muito cedo, São Paulo não tinha tamanha variedade de restaurantes nem uma burguesia tão interessada em ceviches, emulsões ou em redução de vinho do Porto.
Só que a Folha esperou demais. Deixou o concorrente correr sozinho por seis anos até decidir enfrentá-lo. Com tanto tempo para gestar um produto de impacto, acabou saindo com um arroz com feijão correto, bem apresentado, mas sem sal.
A fórmula é bem conhecida: belas fotos de pratos, abertas em tamanho de pôster, seções manjadas ("o desafio ao chef" é igualzinha a uma que morreu no "Paladar"), umas tantas receitas e os mesmos cozinheiros de sempre.
Em tempos de azeitonas esferificadas por Ferran Adrià, dá para exigir mais criatividade do jornal. As capas: carne de porco, Festa Junina, Dia dos Namorados, o centenário do Catupiry -os bons pauteiros têm horror a efemérides- , comida de candomblé, louças para chefs e, a última, "o limão".
Falta pegada jornalística, é tudo pasteurizado, com um tom excessivamente laudatório. Não se trata de pedir um "caderno do contra", porque a Folha já tem uma sanha denunciatória que domina da política ao esporte. Mas poderia dar-se mais ênfase ao que vai contra o senso comum, como fez Josimar Melo certa vez ao demolir mitos culinários de São Paulo -sua crítica ao sanduíche do Mercado Municipal ("quase meio quilo de mortadela para quase nada de pão") provocou torrentes de reações.
ÚTIL
Outra vertente a ser explorada nessa cobertura é a de testar entregas, atendimento, preços e produtos. Ir a vários lugares e comparar, como fez a revista sãopaulo recentemente, quanto se cobra pelo mesmo vinho em diferentes restaurantes. São reportagens que poupam tempo e trabalho para quem lê.
É preciso buscar novos nomes, ampliar a turma de 20 chefs que ocupam 95% dos textos sobre comida em todos os veículos, inclusive nos blogs, e dar voz a outros talentos.
O caderno é novo, começou em banho-maria, mas dá tempo de colocar mais tempero nesse caldo servido toda semana aos leitores.
29/06/2011
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2 comentários:
Não entendi a saída do Carrara. Os textos da PATRÍCIA JOTA comparados aos textos do LUIZ HORTA são de matar. Chamar a syrah de 'pop e sedutora' não dá.A Folha merece mais.
Concordo plenamente com a ombudsman da Folha. Abaixo à superficialidade no jornalismo de gastronomia! Chega de comidinhas, receitinhas. Vamos falar sério sobre comida. É vital, é central, é fenômeno, é representação, é cultura. A partir da alimentação é possível desencadear profundas mudanças na sociedade. Mudanda de visão de mundo, principalmente. Tá na hora de ir na raiz da camida ao fazer jornalismo. Anseio por ver essa editoria tão respeitada quanto a de economia , mundo ou esporte.
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