25/08/2011

Leitor de 5ª - volta de viagem

Você está lá e vê o que está acontecendo diretamente. Chega, e lê no jornal o que você constatou localmente. Dá a sensação de que você foi testemunha da história. Falo do fechamento do café Richamond em Buenos Aires, que Comida reporta hoje. De fato, era um assunto palpitante na imprensa portenha e não deixaria de repercutir por aqui.

Seria mesmo muito bom se os cadernos de gastronomia acompanhassem a cena portenha. Há sempre coisas interessantes por lá, além dos cafés que fecham.

Para mim é inexplicável por que, até agora, não restauraram a Confeitaria del Molino. Entra ano, sai ano, e os tapumes que a rodeiam dão o testemunho da indigência a que o patrimônio do país vizinho pode ser relegado. Mas, na outra ponta, temos também a pujança do café Las Violetas, como se vê aqui na foto amadora.
Os argentinos gostam de indicar os cafés que Borges frequentou. Como esse e o que fechou. Mas seria ótimo termos um balanço do movimento desses cafes, formando uma noção mais exata da ação do tempo sobre um destino turístico tão encantador como Buenos Aires.

Comida preferiu destacar na capa a fazenda Genève, que produz queijos de cabra, entre Friburgo e Teresópolis. Aqui perto temos o cooperativa Capricoop, que talvez merecesse destaque igual, pelos produtos que disponibiliza para o publico paulista, feitos a partir de leite captado em São Paulo e sul de Minas. E o destaque para a fazenda carioca não se compreende lendo a matéria.

Mas o que está imperdivel no Comida de hoje são as colunas de Rodrigo Oliveira e Nina Horta. O primeiro, mostra por A+B o preço da ilusão de ótica que é observar a cidade a partir dos ditos “Jardins”. Ele exemplifica que há vida gastro-inteligente para os lados das vilas Medeiros, Maria, Jardim Brasil, Edu Chaves & quebradas. Os jornais deveriam seguir suas dicas nas próximas edições. É um escrito cheio de graça, explicando por que não precisa abrir uma casa na Vila Madalena, só para conforto de parte da sua clientela que se julga o umbigo do mundo.

Nina Horta aborda a moda do combate às bactérias, como tenho tratado em vários posts sobre os “limpinhos”. Aliás, sobre essa coisa de “abaixo a contaminação” terei oportunidade de falar no próximo final de semana em Tiradentes, discorrendo sobre o queijo de leite cru, em nome da ong SerTaoBras. Falarei sobre “A defesa do queijo nacional com argumentos estrangeiros”, destacando como os europeus enfrentam as questões que alarmam nossos burocratas do Ministério da Agricultura e da Anvisa.

Paladar continua com a sua obsessão por “harmonia”. Agora, queijo e cerveja. Que tal deixar o leitor um pouco em paz, escolhendo os seus próprios caminhos entre o bebível e o mastigável?

Mas Paladar dá uma cobertura melhor que Comida para o teste promovido pelo Instituto Socioambiental para a avaliação gustativa das pimentas dos índios baniwa. No site da Ong se lê: As pimentas são usadas há milênios pelo povo Baniwa como proteção contra maus espíritos, purificador de alimentos e antiséptico facial. Há uma grande variedade de espécies na região, sendo a espécie Capsicum af. frutenses, conhecida como withsia na língua Baniwa, a mais abundante. Na culinária Baniwa utiliza-se a jiquitaia, que significa mistura de pimentas torradas, socadas e em pó, com sal. Seu sabor é único: forte, salgado, rico em especiarias. Usada em pequena quantidade já tem efeitos intensos sobre o sabor dos alimentos.

A matéria do Paladar refere-se a encontro de degustação de 11 amostras da pimenta, apresentadas no Dalva & Dito para convidados.

Pessoalmente, acho as variedades de jiquitaia muito mais ricas e interessantes do que a pimenta de Espelette, que é uma pimenta DOC do país basco. Mas aquela contou com a promoção decidida dos chefs espanhóis e franceses mundo afora. As pimentas baniwa, dependerão, ainda, de um marketing correto e do eventual engajamento dos chefs brasileiros que, em sua maioria, ainda preferem referencias gustativas exóticas.

No Valor, matéria de Jorge Lucki sobre os vinhos Barbaresco. Ele nos brinda com uma tabela daqueles que podemos encontrar no Brasil e sua avaliação para cada um. Os mais caros são os que levam melhor pontuação. Eu preferiria uma crítica que mostrasse os bons a preços razoáveis. Certamente não correspondo ao leitor-ideal de Valor.

1 comentários:

Breno Raigorodsky disse...

Numa degustação que realizei com 10 pagantes no Pichi, semana retrasada, o Monferato Barbaresco (93 RP) levou um pau sincero de um Barbera Reserva Valfieri que custou menos da metade do preço...

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