17/09/2011

G7 e G8 não devem ser exemplo para o G9

Todo movimento precisa de um manifesto. Digamos que o G9, depois do G7 e do G8, é um lance de marketing de se tirar o chapéu. Mas há que atentar para a evocação conservadora que faz.

E atentar para o fato que muitos dos seus participantes, antes de se preocuparem com o “social”, o “sustentável”, etc, aprenderam a se mover com desenvoltura no ambiente do marketing. Se tornaram melhores vendedores do que agentes de transformação social.

Eu organizo o movimento

Eu oriento o carnaval

Eu inauguro o monumento

No planalto central do país


A “Carta de Lima” beira a ingenuidade ao se dirigir aos “cozinheiros de amanhã”. Afinal, o mundo não se move por princípios e boas intenções. Sabem os signatários que se move por interesses que, aliás, sabem bem defender no plano pessoal - prova é que são todos profissionais bem realizados.

E foi isso que o crítico do The Guardian apontou, provocando certo frisson nas hostes gastronômicas. Escreveu exageros também, é claro. Quis deixar claro que

O monumento

É de papel crepom e prata


O inferno está forrado de boas intenções. Compromissos com “valores” é fácil afirmar e reafirmar. Mas, concretamente, o que propõe o G9? Os “cozinheiros de amanhã” devem servir aos seus clientes alimentos transgênicos? Devem olhar para a Amazônia de modo deslumbrado, sem uma palavra e um ato que recuse sua destruição? Devem servir aos clientes produtos intoxicados por hormônios, antibióticos, etc?

Perderam a oportunidade de assumir compromissos claros com aqueles que lutam empunhando essas bandeiras. Cerrar fileiras com causas claras, era o manifesto esperado.


Sem dúvida o espectro de Santi Santamaria pairou o tempo todo sobre as suas cabeças. E Gastón Acurio, sabemos, é melhor do que isso. Josimar Melo soube registrar a vacilação e a solução de compromisso para produzir-se uma unidade que é, no mínimo, pífia. Gastón conciliou. Afinal, era o anfitrião.

Talvez seja hora de compreender também que a gastronomia deixou de ser um poder centralizado em 7, 8 ou 9 chefes. A dispersão é sua marca. Está em toda parte.

O monumento não tem porta

A entrada é uma rua antiga

Estreita e torta

E no joelho uma criança

Sorridente, feia e morta

Estende a mão

1 comentários:

Chef Paulo Machado disse...

Como é bom ler coerência! Fui ao Mistura, amei...
E Presenciei em Lima toda a "pataquada" do G9, parecia coisa "pra inglês ver" e no meio de todo aquele discurso, patrocinado por sansungs, telefônicas, e 'trangênicas' sai e fui pra "calle", pra rua do Mistura o evento mais popular e maravilhoso que já presenciei na minha vida, um monte de gente dedicada e que entende de comida, produtos e livros... Comprei ali pertinho da arena do G9, um livro do Santi, e depois, ali, no meio do povo, comi cuy assado con chicha morada e umas frutas saborosíssimas!!!

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