18/11/2012

A origem dos brasileiros, segundo Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro


“Provada a existência de antigas relações quase históricas entre povos do Mediterrâneo e as Canárias, ilhas de que até Ptolomeu e Plínio fazem menção, nomeando várias delas, nada mais natural do que conceber, naqueles tempos de atraso da navegação, frequentes engarrafamentos de alguns barcos, que fossem parar, uns nas costas do México, outros nas do Yucatan e Centro-América, e finalmente outros nas do Brasil e Antilhas. Destes últimos, bons navegadores, conhecendo já o uso do arco e da flecha, o fabrico das bebidas fermentadas e dos venenos, a arte cerâmica, certa agricultura, os instrumentos de pedra polida, e o uso de fogo para vários misteres, provieram os nossos Tupis, ‘os da primordial geração’, segundo o significado desta palavra, conforme provamos.

O fato de se chamarem também Caribs ou Carys, de se denominarem Caryós (Carioes, escreve o cronista Herrera) os que se achavam na vanguarda da emigração, no Sul do Brasil, e de designarem, com honra, com esse nome os europeus que depois aqui aportavam como amigos (donde proveio Cariocas), nos deu as suspeitas de que os primitivos imigrantes teriam esse nome. E hoje temos quase a convicção de que houve efetivamente para o Brasil uma grande emigração dos próprios Cários da Asia Menor, efetuada depois da queda de Troia. Havendo eles estado, nessa guerra tremenda de dez anos entre a Europa e a Ásia, contra os Gregos, e havendo ficado vitoriosos os Gregos, e senhores dos mares, é mais que possível que os mesmos Cários nem nas suas colonias ao Oeste de África se julgassem ao abrigo das crueldades que nesses tempos se praticavam com os prisioneiros de guerra, e que não se reduziam à escravidão, mas ao sacrifício de muitos e à amputação das mãos e do próprio falo. Sendo assim porventura, preferiram confiar-se a esse elemento que lhes era tão familiar, e se lançaram no oceano à aventura... A forma das canoas de guerra dos Tupis, semelhantes às antigas pentecontores, o uso das outras canoas de periperis, análogas, como dissemos, às de papiros dos Egípcios (...) o uso do maracá, antigo sistrum (....) as superstições por uma ave noturna (...) o uso da circuncisão, que hoje temos averiguado que havia chegado até aos próprios Guaranis do Paraguai, e finalmente certa semelhança entre o tupi e o egípcio antigo (...) fazem-nos crer que eram de raça aparentada com os Egípcios os ascendentes dos nossos Tupis”.

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