16/07/2013

"Chef": será o "doutor" das panelas?


Numa época em que o pensamento crítico rasteja, muito interessante a análise da jornalista Eliane Brum sobre o uso abusado do termo “doutor” por médicos e advogados.

Há muito tempo me dou conta disso e travo minha luta privada: o sujeito se auto-intitula doutor e logo sapeco - “A sua tese de doutorado é sobre o que?”. Dá gosto ver o constrangimento.

Mas o que Eliane nos mostra com espírito crítico aguçado - em texto talvez mais longo do que o necessário - é que a luta por palavras é essencial na busca da igualdade. Sim, porque há opressão nas palavras. Não só naquelas “politicamente incorretas”, que tem os dias contados, mas nessas vulgares, às quais nos acostumamos mais facilmente.

Agora, faça sua própria reflexão: você não acha que “chef” é a transposição do “doutor” para o campo da culinária? Será que não dá para só cozinhar?

5 comentários:

wair de paula disse...

Ao ler isto, lembrei-me de um cheque que recebi há muito tempo, onde o emitente assinava Dr. Fulano de Tal - era jovem, mas lembro-me até hoje. E tive ua reunião recente com dois advogados - era um tal de "o doutor não acha, o doutor considera...". E ontem vi Paoa Carosella aTV, dizendo "eu sou uma cozinheira". A necessidade imperativa de títulos às vezes é estranha. Abs.

Marcus Ernani disse...

Em que pais serio por exemplo permite curso se chamar de MBA? Estudante de gastronomia sair formado em Chef?
Atendente de balcão se intitular barista sem tem nunca visto de perto um pé de café?
Ora na republica das bananas é claro!

Anônimo disse...

O resquício de uma sociedade onde a minoria burguesa tinha acesso aos títulos do ensino superior...

Diogo disse...

A única coisa que espero quando vou a um restaurante é boa comida e bom atendimento. Pouco me importam os transtornos emocionais desses profissionais de cozinha que precisam ter sua imagem referenciada a cada instante. É foto pra cá, elogio pra lá, amizade com imprensa, compartilhamento social de toda comida que fazem...

Famosos ou não, esses são os mesmos que se dizem insultados quando veem outras pessoas em busca do "glamour" e do reconhecimento público. Curioso que eles responsabilizam os jovens, dizem que eles estão apenas em busca da "recompensa".

Penso que esse comportamento é um verdadeiro tiro no pé e tem conseqüências que vão além da compreensão da maioria. Os cursos de Gastronomia poderiam ter se proliferado com foco em qualificar mão de obra técnica para a criação de uma base profissional. Enquanto isso, só estudam nas faculdades aqueles com famílias bem estabelecidas. Quando se formam, percebem que os salários são baixos e o trabalho é descomunal. É aí que abandonam as cozinhas. Até agora, observei que alguns decidem empreender no ramo e outros simplesmente migram para outra área. Quem já trabalhou em uma cozinha industrial sabe que as equipes são formadas essencialmente por pessoas pobres, com pouco ou nenhum estudo e sem acesso a boas oportunidades. Para essas pessoas, fazer uma faculdade é um sonho.

Resultados que podem ser observados em qualquer cidade brasileira: as cozinhas continuam com uma rotatividade altíssima, a qualificação técnica é tosca, falta qualidade no resultado do trabalho, os trabalhadores sofrem com a falta de desenvolvimento (ou até falência) das empresas. Quem ganha com isso? Ninguém!

É só minha interpretação, mas vamos colocar na balança: qual foi o real benefício que esse tipo de abordagem dos cursos de gastronomia trouxeram até agora? Pelo tamanho do investimento, deixa muito a desejar!

Chefs e restaurateurs deveriam dar uma boa olhada no espelho e perceber que a glamourização que eles promovem torna a indústria insustentável.

Estou em uma capital pequena mas já frequentei alguns circuitos em São Paulo e não é muito diferente. O que você pensa sobre isso, Carlos Alberto?

e-BocaLivre disse...

Diogo, penso que voce está coberto de razão e sua reflexão é uma boa contribuição ao debate. Muito obrigado

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