10/07/2014

O "baixo Pinheiros" e a força da grana

Interessante reportagem de Jose Orenstein na capa do Paladar de hoje, sobre o auto denominado “baixo Pinheiros”. Interessante porque deixa clara a relação entre especulação imobiliária e “gastronomia”.

Há na região uma valorização dos espaços, especialmente pela construção de prédios residenciais de “alto luxo”. Mais gente com grana gera mais renda da terra.

Se os ricos competem com os antigos moradores remediados para ali morar, competirão também os restaurantes de sua predileção com os velhos bares e botecos. Uma “área marginal aos centros gastronômicos da cidade, como Jardins, Itaim ou Vila Madalena” passa a permitir ganhos ascendentes para os donos de restaurantes. A dinâmica espacial das classes sociais é assim: mudam de mala e cuia. As cuias estão chegando, inclusive abrindo filiais cujas matrizes estão nos “jardins” & assemelhados.

Hoje os restaurantes da região servem aos trabalhadores de escritório das grandes organizações, como a editora Abril, a Cetesb, a Sabesp, o CET, etc. Mas no final de semana a região é invadida por gente de fora do bairro. A vila Madalena e Pinheiros são, hoje, o que o Bixiga se tornou há 20 anos como destino “turístico” de quem mora na ZN, na ZS, etc. O excursionismo de lazer se sobrepõe à pacata vida do bairro; fenômeno reforçado nesta Copa, que deve deixar marcas indeléveis no tecido social da região.

Muita coisa vai ficando aquém do desejável e possível. O Mercado de Pinheiros é um deles. Anda numa avacalhação de dar dó; vai sendo invadido por barzinhos, em vez de revalorizado e modernizado em sua função primordial de abastecimento.

Todo mundo gosta de comidinhas bacanas, e saúda entusiasmado a sua chegada. Mas, e os moradores do bairro? Estão gostando da mudança da dinâmica urbana? Faltou à reportagem ouvir o lado dos que não estão gostando nada disso...

O Plano Diretor da cidade teve aprovação recente na Câmara Municipal, levantando-se várias questões contraditórias sobre o impacto do adensamento populacional, proposto para o entorno das grandes avenidas.  Certamente isso trará repercussões de médio e longo prazo para a Vila Madalena, Pinheiros e “Baixo Pinheiros”.

Enquanto a força da grana destrói coisas belas, vai mais uma cerveja ai doutor?

1 comentários:

Breno Raigorodsky disse...

Gostei bastante dos comentários. Mas será pedir muito aos gastrônomos do Caderno Paladar uma visão sociológica e urbanística do fenômeno? A expansão das manchas de restaurantes que se deslocam e se adensam São Paulo afora, são sempre vinculadas ao cerne de questão que você levantou. Estamos falando de gente com dinheiro que está mudando para a Barra-Funda ou principalmente está indo trabalhar lá, no centro da cidade e outras tantas áreas que com isso se revitalizam... Sem que ninguém se importe com o que pensa o morador original, como você bem ressaltou.

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