07/08/2014

O sofisma como jornalismo gastronômico

Paladar traz hoje matéria sobre a presença do milho, arroz e outros cereais não maltados no fabrico da cerveja. Seria um bom tema, não fosse o sofisma em que se baseia. “O milho em si, sozinho, não faz cerveja ruim. Assim como a cevada sozinha não faz cerveja boa. Cada ingrediente traz coisas diferentes, e até o grande vilão, o milho, pode ter seu uso, sim”.

Digamos que nenhum ingrediente faz-se cerveja por si. Trata-se de um sofisma, pois o que se condena é o uso do milho para produzir álcool mais barato na cerveja: “O preconceito contra o milho vem, em parte, dos EUA. Também lá o cereal é bastante disponível e foi muito usado em épocas de crise. Além de baratear os custos de produção (...). A forte influência da escola cervejeira americana aqui no Brasil importou a implicância para cá”. O que a autora, Heloisa Lupinacci, chama de "preconceito" é o abuso dos cereais não-maltados pelos fabricantes.

Abuso porque as normas brasileiras vem sendo desrespeitadas na produção de cerveja. A adulteração significa que o milho representava 48,7% da matéria-prima seca das cervejas feitas no país. Se as pessoas gostam ou não se importam com xixi de gato é outra questão. Para uma crítica à legislação, seria necessário um pouco mais de empenho e dedicação da jornalista...

Para quem tem interesse em aprofundar a discussão sobre a qualidade da cerveja brasileira a partir dos seus componentes, remeto a uma fonte já antiga, que é um estudo divulgado pela FAPESP, e que já comentei aqui.

0 comentários:

Postar um comentário