08/04/2015

Culinária além do que ensina a vã sociologia



O resumo que fiz de uma pesquisa de Donald Pierson sobre a alimentação paulistana em 1944 mostrou, no Bexiga, uma dieta “precária”: café da manhã, café com açúcar; almoço - sopa de repolho; jantar - arroz e feijão. No Pacaembu, ao contrário, uma cornucópia: almoço - sardinha, carne de vaca, carne de porco, feijão e arroz, farinha de milho, pão, alface, tomate, chuchu, abacate, doce de leite, goiabada, café com açúcar; jantar - sopa de aveia, carne de vaca, carne de porco, feijão e arroz, salada de alface, berinjela frita, doce de leite, goiabada, café com açúcar.

Me ocorre que, além das diferenças de renda, a abundância no Pacaembu mostra um ideal de refeição: a presença simultânea de 4 diferentes carnes no almoço e duas no jantar revela apreço pela abundância, pelo excesso, mesmo doméstico.


De onde nos teria vindo isso? Afinal, 13 pratos à mesa não é coisa comum no mundo, talvez exceto na refeição oriental. O arroz-feijão, que "exige" inúmeras “misturas” de carnes e vegetais, indica uma sintaxe culinária que projeta uma casa grande onde o senhor é grande provedor, atento à diversidade de preferências pessoais dos comensais. Por contraste, pode-se imaginar a suprema humilhação que é almoçar uma reles sopa de repolho, ou jantar o reles arroz-feijão sem  “mistura” alguma.


Observar os contrastes à mesa pode nos ensinar muito sobre a sociedade em que vivemos; mais do que nos ensina a vã sociologia.

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