07/08/2015
Master chef, o preço de uma ilusão
(o darwinismo social das panelas)
No Instagram, um Eric Jacquin (212K) ou uma Paola Carosella (213k) valem quase um AA (Alex Atala, 241k seguidores); já um Fogaça passou essa marca, pois tem 307k seguidores. É o hiper-super-pop star do momento.
O chef Mario Portela observou que um Alain Ducasse tem 72K seguidores; o último vencedor do Master Chef americano tem 3k seguidores e a vencedora no Brasil tem 130k.
É o “efeito Master Chef” que repercute diferentemente no mundo e, convenhamos, Atala ralou muito mais para chegar onde chegou, sendo que Alain Ducasse, talvez mais importante na gastronomia do que Atala, perde para a vencedora brasileira.
Em síntese, parece que não há vantagem em ralar, ou que descolar-se do trabalho de transformação material levado a efeito na cozinha, assumindo a forma etérea de um espectro no video, é muito mais vantajoso para a notoriedade de um chef.
Claro, não existe ubiquidade e tudo tem o seu preço, e a imprensa mostrou o efeito do abandono da cozinha por Eric Jacquin, no seu Le Bife onde nem se acerta o ponto da carne... “Para mim só existe dois tipos de comida, a boa e a ruim”, pontificou Jacquin. Pois é. E tudo, tudo, pode virar piada inconsequente.
Mas apenas aparentemente o Master Chef evoca a cozinha. É, antes, uma espécie de “darwinsmo social” das panelas. Uma movimentação louca cujo resultado é definir “sobreviventes” e, claro, perdedores. Tudo apresentado como um Coliseu engraçadinho.
Os antigos programas de auditório, como os do Chacrinha, com Elke Maravilha e Dener de jurados, representavam um espetáculo parecido, mas nem se pensava em comida. Vai pro trono ou não vai?
A força centrípeta desse tipo de espetáculo é enorme. Até Arnaldo Lorençato, o crítico de gastronomia, virou outra nova espécie de crítico: critico da novela Master Chef. “Aritana mereceu ter sido eliminada?” É como se por um tempo a cozinha de verdade tivesse que parar para tornar-se um espetáculo que transborda para todo lado.
Sou daqueles que preferem ver a cozinha por outro ângulo: a cooperação. Como o chef integra elos de uma vasta cadeia, isso é o fundamental; e não saber como um cozinheiro se destaca ao individualizar o trabalho social que há por trás de si. Até bem pouco tempo prevalecia a ótica da integração. Basta consultar inúmeras falas de cozinheiros espanhós, de Adrià a Santamaria, para constatar. Outra coisa: a idéia de “vocação”, ou talento, em geral é uma merda num trabalho coletivo. Mas, fazer o que? Vivemos a era do circo eletrônico, digital, virtual ou seja lá o adjetivo que se queira dar a essa ausência triunfante de materialidade gustativa.
Fico pensando nos jovens que, despertos por essa mágica, passam a sonhar serem cozinheiros, chefs. Uma legião de garotos e garotas que procuram convencer seus pais a pagarem as caras faculdades de gastronomia. Ao final, batem à porta dos restaurantes e recebem a proposta ou de trabalharem de graça, como estagiários, ou serem contratados por R$ 1.000,00 nas melhores casas do ramo. Em geral um caminho sofrido, tortuoso, de proletarização da classe média.
A que ponto chegou aquilo que Carème acreditava ser “A cozinha”!
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2 comentários:
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/divirtase/46,51,46,61/2015/08/07/internas_viver,591129/vida-de-henrique-fogaca-do-masterchef-vira-reality-em-2016.shtml
Agudo!!! Ótima crítica!
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