Interessante como se forma o discurso ideológico em torno da gastronomia. É como uma pedra que cria limo... Capa do Paladar de hoje: “o Brasil sem vergonha de ser simples”. Mas, pergunto, quem tinha vergonha?
As farinhas, as PANCs, o quiabo, o jiló, o chuchu, a galinha d´angola. Nada disso é “simples” por natureza. Roberta Sudbrack já mostrou, por exemplo, como o jiló é complexo. A complexidade de um ingrediente expressa a sua riqueza. E a boa culinária nacional nascerá da dedicação dos cozinheiros à complexidade do que é especial para a nossa cozinha. O que esses ingredientes tem de particular é falarem muito de perto com os consumidores, pois integram a dieta popular. Eles têm grande legibilidade, é isso. Basta mostrar que eles possuem também vários ângulos aproveitáveis, escondidos além das formas tradicionais de consumi-los.
O que Paladar quer dizer - e mistura as coisas indevidamente - é que é necessário “desgourmetizar”. Afinal, quem criou o “espírito gourmetizador”, como já indiquei aqui ao escrever sobre o "entulho gourmet", foi especialmente a aliança da imprensa com os chefinhos e chefetes deslumbrados com as modas internacionais, com a tecnologia sem propósito, etc. É a crise econômica que, sem pedir licença, provoca a “desgourmetização”. E a imprensa vem, de novo, querer apresentar esse movimento como uma nova “moda”!
Parece que não há discurso gastronômico sem modinhas. Ledo engano. Basta olhar com atenção o Brasil e, especialmente, o seu interior. É isso que os chefs precisam fazer - e farão. Falta a imprensa fazer o mesmo.
01/10/2015
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