22/01/2017

O que a música tem a ver com a gastronomia?

Os antigos cafés-concerto eram lugares para se ouvir música, onde se podia comer alguma coisa, ou, ao contrário, lugares para comer onde se podia ouvir uma musica digestiva? A  diferença pode parecer sutil, mas determina a alma que vestimos ao sair de casa. 
É tão comum que restaurantes tenham música de fundo que pouco se pensa sobre a relação entre uma coisa e outra. Mas nos últimos dias estive em dois restaurantes onde comi bem em meio a grande desconforto musical. É claro que o proprietário não precisa saber do meu gosto musical, nem eu do dele. Mas por que me força a essa convivência com o seu gosto musical se estou ali para comer? Comer bem ouvindo musica desagradável não é uma equação duradoura, perene. E se hoje temos tanta oferta musical quanto culinária é bem provável que essas coisas estejam desalinhadas. 
Mesmo que o proprietário não queira, a música acabará por selecionar o público, assim como a comida seleciona. Se o propósito é oferecer uma comida o mais universal possível, sem frescuras, a musica, no médio prazo, pode conspirar contra isso. E desde que sabemos que o “gosto” não é o mesmo que o paladar, mas algo multisensorial, é o caso de se levar a sério essa relação impensada.
Uma das coisas mais constrangedoras é um lugar onde haja musica ao vivo e as pessoas, comendo, falam alto e não prestam atenção à musica. Na Casa do Mancha cabe a crítica musical e a gastronômica será um exagero. Não deve ser muito diferente um lugar onde um bom cozinheiro dá o melhor de si para um público mais ligado na musica, em ver e ser visto, do que na comida. A crítica musical será um exagero.

Gosto do som de talheres sendo remexidos, talheres que “tocam” pratos ao serem depositados sobre eles, cristais se encontrando. São sons exclusivos de restaurantes, que a musica parece querer esconder, assim como à conversa das pessoas. Gosto de filar conversa da mesa ao lado. 
Torço para que proprietários de restaurantes redescubram o valor do silêncio musical, já que não posso pretender que apreciem as mesmas peças de jazz que eu, ou a musica erudita, ou o que considero boa musica popular brasileira. Prefiro que tragam a batata frita correta e em silencio.

1 comentários:

Marília Frenandes disse...

É verdade!
Comer ouvindo musica faz bem a saúde, porém se for um Funk, deus me livre!
Obrigada.

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