03/07/2009

A identidade culinária

No que a culinária contribui para a identidade de um povo? Há quem ache que ela tem o mesmo papel que a língua, como Santi Santamaria. Ele se refere ao conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma localidade diante do mundo e das demais localidades.
Mas vejo, às vezes, uma aplicação diferente, como se a culinária devesse sustentar a “consciência da persistência da própria personalidade”. Identidade igual a ego.
Muita gente acha, como Santamaria, que a fastfoodização do mundo destrói as identidades, ao criar a homogeneização do comer. Mas isso não acontece só com o MacDonald's. Acontece também com a pizza.
Ontem vi uma reportagem na TV, onde um camarada ensinava a fazer pizza de arroz-com-feijão. Quer dizer que a nossa identidade está no recheio, e não passa pela massa? Pizza de brigadeiro, de goiabada, de pêssego com catupiry, são coisas “nossas”, que alimentam nossa identidade? Ou são barbarismos sem fronteira? Coisas que, só de lembrar, me dão engulho (põe ai minha identidade fora disso, por favor).
Só quem come arroz-com-feijão ou come as comidas típicas locais, as comidas das avós, é ou se sente brasileiro?
Seria melhor reconhecer que há múltiplos planos identitários. E que talvez as pessoas entrem realmente em crise de identidade quando não comem o que gostam por muito tempo. E se gostam de MacDonald's, sua identidade culinária mudou, não desapareceu. São como qualquer pessoa que come pizza em qualquer lugar do mundo, com horríveis recheios...
Há pessoas de personalidade forte, muito centradas, às quais é praticamente indiferente o que comem. Suas identidades não passam pelos pratos.
Um povo come o que come, e isso vai mudando com o tempo. Assim como a identidade de cada um.
Mas há momentos na história em que a identidade culinária de um povo se torna uma questão de alto significado político. Como foi na Cataluña saída do franquismo, quando os cozinheiros trabalhavam com afinco para “desenterrar” as receitas locais, assim como os filólogos se ocupavam da língua, os historiadores da história local, etc. Será que, no Brasil, vivemos um momento desses?

2 comentários:

Cida Machado disse...

Olá Carlos Dória, muito interessante o seu questionamento, principalmente por tratar de identidade. O brasileiro tão diverso e versátil pode encontrar uma só identidade, ou é essa diversidade multipla nos une.
Ficaria muito feliz se estivessemos a procura de nossa identidade culinária, pois nos perdemos muito com os modismos culinários.
Enfim, adorei seu blog, e como sou uma fã inveterada da culinária, vou sempre estar por aqui.

e-BocaLivre disse...

Cida, obrigado. Apareça sempre.
abraços
Dória

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