24/08/2009

O novo estranho caminho de Santiago - II

O Passeo de la Castellana é uma das mais belas avenidas do mundo. Dessas coisas que destilam baba na boca de todos os urbanistas. Um longo percurso por ela, partindo do Museo do Prado até o fim, não custa mais que um euro de ônibus. Prédios pós-modernos, modernos e alguns pré-modernos. Você passará diante do estádio Santiago Bernabeu, onde em 11 de julho 1982 houve a final da copa do mundo entre a Itália e a Alemanha. E quando estiver voltando, poderá parar na esquina da Calle Fernandez Villaverde e ir ao inevitável El Corte Inglês, sucursal Castellana - só que este tem uma seção de ferramentas e uma seção de caça que você não encontra nos demais. Já pensou em possuir uma camisa pólo ou uma jaqueta da Beretta? Mesmo que você jamais tenha dado um único tiro na vida, essa grife é um charme só. E só vende nesta loja da cadeia, onde pode comprar também uma bússola para o seu filho, se ele anda meio desorientado...

No trecho que se chama Passeo de Recoletos, o Passeo de la Castellana dispõe a seus pés o restaurante El Espejo.

Uma obra-prima art nouveau. São dois salões magníficos e, do outro lado da rua, no meio da alameda, uma terraza pra lá de agradável para se tomar uma cerveja e “picar” umas comidinhas. Vez por outra, os garçons atravessam a rua com as bandejas trazendo lá de dentro o que os clientes pediram. Callos a madrileña para que gosta de dobradinha, tortilla de batata a mais tradicional, pimientos recheados de lula; ou mesmo os imbatíveis presuntos, queijos manchegos e coisas assim que se encontra por toda parte e que os turistas nem sempre descobrem que existe. Fique por ali uma hora ao menos, e antes de tomar o ônibus novamente, tome um café na parte interna do restaurante. E não deixe de ir ao banheiro, pois poucos banheiros merecem a atenção que o de El Espejo merece.

Sim, de noite você deve ir ao Botin descendo da Plaza Mayor pelo Arco de los Cuchilleros. Afinal, este restaurante está lá, à sua espera, desde 1725, e se Hemingway ia sempre, por que não ir comer o seu cochinillo assado como ele fazia? Ou simplesmente ir de novo, se já foi em outra viagem. Madri é ideal para se ensaiar tradições pessoais. Mas chegue bem antes, ou o suficiente para, descendo a rua, comer como aperitivo, numa tasca galega que há por ali, umas navajas a la plancha; ou uma oreja a la plancha – ou os dois. São coisas dos deuses, corretamente feitas. Não adianta dizer o que são, pois nenhuma descrição substitui o prazer de experimentar pela primeira vez, e com a vantagem de dispensá-lo de se empanturrar de pão enquanto o cochinillo não chega.

No dia seguinte, feliz, você levantará de alma mais leve para seguir em direção à Rioja. Certamente alugará um carro, ou irá de trem, pois ninguém é de ferro para tanto avião!
(Segue. Novo capítulo amanhã)

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