17/03/2010

O dia da criação

Muito interessante o desabafo de Roberta Sudbrack a respeito da criatividade. De fato, como se pode perguntar a alguém: “como é que você cria”? Só Deus poderia nos revelar um método de criação; ou Darwin nos dizer como o mundo se criou sem Deus...

Mas Roberta deixa claro que a criação é “o momento em que tudo se clareia, a energia flui e a emoção fala mais alto”; uma força incontrolada que se impõe. Ela é perceptível quando surge uma empatia maior e fora do comum com o que se faz. Tão forte que parece escapar do movimento e da seqüência natural das coisas.

A criação é imprevisível, sem dúvida. E também aleatória. Só não concordo que seja anárquica. Por trás das pessoas criativas há, em geral, grande domínio técnico; grande curiosidade e pesquisa sistemática. Tudo isso custou trabalho, determinação e persistência - tudo o que é o oposto da anarquia. A criação não é um “estalo de Viera”; ao menos não é um estalo que dê em qualquer um. Sem cultura específica não há autentica criatividade, pois se corre o risco de inventar a roda.

Os que pensam que têm um dom – um “dom para cozinha”, por exemplo – tendem a desprezar a técnica, a pesquisa, o trabalho sistemático e assim por diante. No fundo, acham que Deus guia suas mãos e se portam como uma espécie de "cavalo de Exu". Não precisam se dedicar a nada senão à espera...

Deixando de lado essa mística, a verdadeira criatividade só aparecerá, se cristalizará, em mãos de quem tenha cultura e dedicação ao trabalho; quem saiba distinguir entre o caminho verdadeiro, o falso caminho, e assim por diante. Analogamente, é preciso dominar um instrumento como o violão para começar a compor nele.

Roberta domina a cozinha de modo a poder esperar, tranqüilamente, o advento das idéias criativas, dessa brisa ou furacão que se insinua pelas frestas da rotina. Parodiando Zé Ramalho em Frevo mulher, Roberta é esse “olho cego que vagueia procurando por um”. E acha.

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