“Nossa tese pareceria menos arriscada se as pessoas se dispusessem a abandonar um utilitarismo intransigente e cessassem de imaginar, sem discussão, o homem pré-histórico sob o signo da desgraça e da necessidade [..]. Talvez nosso ancestral fosse mais afável ante o prazer, mais consciente de sua felicidade.
[...] não é apenas na arte que se sublima a libido. Ela é a fonte de todos os trabalhos do homo faber. Falou muito bem quem definiu o homem como uma mão e uma linguagem. Mas os gestos úteis não devem ocultar os gestos agradáveis. A mão é, precisamente, o órgão das carícias, assim como a voz é o órgão dos cantos. Primitivamente, carícia e trabalho deviam estar associados. Os longos trabalhos são trabalhos relativamente suaves [...]. Quanto mais suave o brunidor, mais belo o polido. De uma forma um tanto paradoxal, diríamos de bom grado que a idade da pedra lascada é a idade da pedra maltratada, enquanto a idade da pedra polida é a idade da pedra acariciada. O homem brutal rompe o sílex, não o trabalha. O que trabalha o sílex, ama o sílex, e não se amam as pedras de outro modo que se amam as mulheres.” (Gaston Bachelard, A psicanálise do fogo).
05/08/2010
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