A boa noticia já foi dada: onde antes funcionou o Pandoro será, em breve, o Girarosto, empreendimento do group Ida Maria/Paulo Barros, com cozinha comandada por Massimo Barletti, que estava exilado em São José do Rio Preto. Vai dar certo, vai ser bom.
Mas ontem, passando diante da obra que já começou, me ocorreu que o Pandoro não só foi um patrimônio da cidade – um dos poucos bares que, junto com o Paribar, nos remetia aos anos 1940-1950 – mas necessitou ser assassinado duas vezes para morrer de fato.
Quando o velho Pandoro morreu, nasceu no lugar o “Pandoro´s” ou algo assim: um clone do velho bar, onde de velho só havia o delicioso caju amigo. Tudo o mais era “rua-amaurizado”: a decoração, o público, os garçons, etc. Eu bem que tentei: estive lá duas vezes, mas foi impossível tomar o caju amigo com aquelas caricaturas de gente pouco amiga, em guache, na parede; especialmente Mario Amato e o Sr. Paulo Skaf pendurados em posição estratégica, mirando meu cangote.
E por que não deu certo? Simplesmente porque a turma dos ditos jardins não é de bar. Gosta de restaurantes, não de bar. E, no geral, São Paulo não cultiva a noção de “patrimônio” aplicada a bares. Existem milhares de bares na cidade, mas a classe média prefere os clones e simulacros de bares cariocas (onde todo mundo sabe que existem bares de verdade): não freqüenta os bares-bares de verdade, não preserva coisas como o Paribar e Pandoro. É um fenômeno curioso, que desafia a nossa inteligência.
Talvez porque o bar exija, para existir, um forte espaço público, onde se possa circular e fruir a cidade, e São Paulo é a cidade dos espaços privados, do ar condicionado - onde se vai da casa para o trabalho, desse para o shopping, tudo dentro do carro, vidro fechado e ar condicionado ligado - e os bares precisam ser incrustados nesse percurso como “coisa só nossa”, não da cidade, para serem percebidos pelo paulistano. Não há mistura de classes na cidade, como os bares cariocas propiciam. São Paulo é muito “limpinha” para ter bares de verdade, de confluência e convivência de classe; há os bares do povão e os pseudo-bares dos ascendentes. Tudo separadinho.
17/09/2010
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7 comentários:
Mas a classe média meio intelectual, meio de esquerda, como dizia Antônio Prata em sua descrição de bar bom*, invade os bares do povão justamente na falta desse meio termo.
E esses bares que a recebe não duram muito, logo sendo comprados, nunca formando uma tradição...
*Bar ruim é lindo, bicho - http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata/bar-ruim-e-lindo-bicho-1/
Paulistano detesta tradição ou permanência! A cidade tem mais de 400 anos e não tem uma única edificação com mais de 150 anos.
Triste lembrar...
E completando o asterisco do comentário acima com o link da crônica do Pratinha:
http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata/bar-ruim-e-lindo-bicho-1/
Após tentar fazer um paralelo entre RJ e SP, utilizando analogias, o Luiz Horta me disse que São Paulo parecia uma lanchonete com mobília nova. Bem, vivo aqui no Rio, adoro a diversidade e principalmente os acepipes que se encontram disponíveis nos bares. Mas o melhor é o que a gente chama de cerveja em pé, que não é beber em pé (que de quando em vez também é bom, pra olhar o movimento, de cima), mas sim a cerveja em garrafa de 600 Ml. Abraços
Professor, dê uma passadinha lá no blog, onde postei nossa foto. Gostaria muito que o Sr. comentasse. Um grande abraço!
http://otaodovinho.blogspot.com
Bravo !
Mais uma vez você captou o cerne da questão.
Lamento a morte do Pandoro, que não deveria ter ressuscitado nesta ultima versão JõaoArmentanesca, numa tentativa de consquistar o público volúvel,e quase sempre mal informado dos jardins.
O paulistano ainda é muito deslumbrado.Uma pena.
Abçs
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