Ao meu lado, um casal e seus dois filhos adolescentes mastigam de boca aberta. Conversam animadamente enquanto mastigam. Não é exatamente uma coisa agradável de se ver, mas também eu não deveria ficar olhando.
Todos são submetidos a situações assim, onde involuntariamente topam com o que não se identificam, se desagradando. Nas épocas de grandes mudanças de costumes isso é muito comum. É quando surgem até pessoas especializadas em etiqueta. Como nos anos 1960.
Foi quando Marcelino de Carvalho, irmão de Paulo Machado de Carvalho, o "marechal da vitória" que comandou a conquista da Taça Jules Rimet pela seleção canarinho em 1958, se transformou em mestre-de-salão da educação burguesa. Ao lançar o Guia de Boas Maneiras nos anos 60, esse homem “de sociedade”, conhecido por seu "fino trato", talvez não pudesse avaliar o impacto que seus conselhos viriam a ter por uma década entre brasileiros.
Era uma obra fundamental, especialmente destinada àqueles que pretendiam reluzir a fortuna entre famílias tradicionais. Marcelino instruía como se comportar à mesa, escrever cartas, tomar vinho, comparecer a casamentos e batizados, comunicar o nascimento de filhos, ir à Igreja, dar presentes, conversar socialmente, fazer visitas, se portar em enterros, educar crianças, se relacionar com patrões e colegas de trabalho, fumar sem perturbar; em suma, o certo e o errado no cotidiano social. Uma coletânea de conselhos — e de proibições. Paciência. Civilização sempre foi repressão.
Assim, a jovem paulistana que se educava “para a sociedade” nos anos 60, devia falar francês e inglês, estudar no Sion, no Deux Oiseaux ou no Madre Alix, e aprender a dançar na escola de Madame Poços Leitão. E depois aproveitar a oportunidade de se vestir com Dener. Ou como ele mesmo disse a respeito, "é difícil encontrar mulheres apenas bem vestidas. Ou são do tipo classe média de costureirinhas ou entram para as listas das mais elegantes. A explicação é fácil: há muito nouveaux-riches. As grandes fortunas são de famílias tradicionais, onde as mulheres sempre foram chiques. Com o progresso e a minha badalação, todas começaram a perceber que se vestir em alta costura faz parte do bom gosto".
Essa sociedade fechada perdeu o sentido. Quando tanto se fala na ascensão da “classe C” o que os marketologos pretendem é chamar a atenção para o novo movimento do dinheiro, produzindo atores sociais diversos. Ouvi, por exemplo, numa fila de passaporte: “- Você não imagina a merda que é a massa da pizza na Argentina! E nos EUA então, vichi!” Coisas que só mastigando de boca aberta...
Mas, e os restaurantes, o que aprendem com essa nova clientela?
Segue
31/01/2011
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