01/09/2011

Leitor de 5ª - entre nórdicos e baianos

Não sou muito de prognósticos, mas vou fazer uma aposta: não haverá uma moda de cozinha nórdica, nova ou velha, como parece apostar Paladar. Sim, o premio concedido ao Noma aumentará a atenção devotada àquele canto do mundo, mas a cozinha nórdica não chegará aos pés da influencia deitada pelos espanhóis no mundo todo, a partir da atenção que Adrià produziu sobre a cozinha Ibérica.

Como é um prognóstico, não preciso justificá-lo. Minimalismo funcional, pouca interferencia, revalorização da tradição; simples, sóbrio, seco. Enfim, atribui-se ao nordicismo tudo aquilo que, no mundo, vem na ressaca do adrianismo. Essa capa do Paladar parece um falso alerta.

Melhor a capa sobre decoração de bombons do Comida. O decór de bombons como indústria. Era tempo mesmo dessa sofisticação chegar por aqui, valorizando os aspectos semióticos do comer. Dos “bomboneiros” citados na matéria, sou mais Renata Arassiro, do “Esses Chocolates”. Sempre merece uma visita, a loja única em Campo Belo.
Excelente a resenha de Luiz Américo sobre o Italy. O fato de ter gostado da comida, transborda em todos os comentários. Restaurante que tem um olho na comida e outro no público tem mesmo tudo para dar certo. Josimar, ao resenhar o Tavares, também destaca a boa relação qualidade/preço. Ao contrário de certa tendência crítica, que isola o de comer dos demais elementos do restaurante, creio mais e mais que o que vale é a experiência total, inclusive o que se paga por ela. Só caipira acha que caro é bom, confundido com chic e luxento. Observe quem é o publico dos restaurantes que cobram “fora da curva”...

No capítulo dos vinhos, Luiz Horta conta quando passou a acreditar no vinho Talento. Pessoalmente, ainda estou à espera da conversão. Já a garota que substituiu Jorge Carrara, conta sua experiência do dia em que “deixei a ´pose´ de jornalista de lado e me aventurei como consumidora em lojas que costumam mimar os clientes com amostras grátis”. Então tá.

Nina Horta mete o pé na jaca, essa fruta indiana que parece brasileira. Jaca mole ou jaca dura? E a boa notícia está na resenha de Cristiana Couto, do livro de Manuel Querino, “A arte culinária na Bahia”.

Já comentei bastante esse livro em outras ocasiões e não vou me repetir. A resenha, mais ocupada pelo autor do que pela obra, só mereceria um reparo: registrar que toda a literatura sobre “cozinha de santo”, reproduz Querino ou Darwin Brandão. Centenas de livros sobre essa cozinha são absolutamente desnecessários a partir desses dois autores pioneiros. Por essas e por outras, Manuel Querino é um dos autores mais importantes da negritude brasileira, homenageado por Jorge Amado como personagem de Tenda dos Milagres.

Cristiana Couto diz que, nessa edição, há “informações complementares sobre os pratos” oferecidas por Raul Lody. Ele é um autor que gosta de pegar carona em livros clássicos, reafirmando sempre o valor insuperável da tradição. Afinal, há sempre gente que acha que deus ouve melhor a missa em latim do que aquela do Pe. Marcelo. Do meu ponto de vista, Querino é um autor do modernismo brasileiro. Discorri sobre isso em Estrelas no céu da boca.

A edição da resenha é ladeada por uma receita de caruru do restaurante Sotero, em São Paulo. Receita que passa cebola, castanha de caju e amendoim pelo liquidificador. Manuel Querino deve ter tremido na cova....

1 comentários:

Isaac Kojima disse...

Li a matéria do Paladar e chego a conclusão que a pessoas se impressionam muito fácil com o que já existe há muito tempo, como se fosse algo novo. Não existe novidade na interferência mínima nos ingredientes. Alice Waters já pregava uma cozinha com ingredientes sanzonais, locais e ética; e já faz um tempinho que muita gente nos EUA tem apostado nisso. Além disso, a cozinha japonesa, tradicionalmente, tem um foco muito grande na sanzonalidade. Basta ver o quanto as estações do ano são importantes por lá para definir o que se come. O mesmo vale para as técnicas de conservação tradicionais, tão presentes, não só no Japão, como na Coréia do Sul e na China.
E parece que se ignora também todos os esforços do Slow Food para preservar técnicas e ingredientes tão tradicionais, com ênfase nos mesmos princípios de agricultura e processamento local dos alimentos.

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