30/11/2011

Notas esparsas

Regionalismos espanhóis


Observei que em nenhum dos jantares promovidos pelo Gastronomika havia cava, o espumante espanhol por excelência. Inversamente, em todos havia o vinho txakoli. Um vinho basco bem mais ou menos, diga-se de passagem. Ao menos nós, brasileiros, não conseguimos identificar facilmente as qualidades que os bascos tanto apreciam nele.

Por outro lado, aos poucos me dei conta de que, no lugar da cava, havia champagnes. O vinho francês, em várias marcas, aparecia nos coquetéis de boas vindas e no final das refeições. O cardápio do Elkano anunciava a Taittinger rosé no jantar para os congressistas. Era muita deferência, pensava.

Já em Barcelona, ao relatar essa percepção para um catalão, ele logo se adiantou me explicando:

“- Claro! Cava é catalã. Os bascos nunca admitiriam tomar uma bebida catalã! Preferem os champagnes, para não dar lugar à cava nas suas festas. E aquela coisa horrível que chamam de vinho...”

Exagero ou não, é inegável que um regionalismo extremado se sobrepunha a um “nacionalismo etílico” que existia na minha cabeça. As coisas de comer, qualquer prato ou bebida, podem servir como fortes marcadores culturais.

A política é muito forte na culinária, mesmo quando esta nos parece “neutra”, ou pertencer a outra ordem de fatores. Podemos ignorar totalmente o que nossos vizinhos comem, até mesmo mostrar repulsa. E assim se constrói o território, tecendo-se entre incontáveis divisões. Por isso é mais correto dizer “povos espanhóis”, em vez de “povo espanhol”. E não é só a língua que os diferencia...


Sapatos


Não olho muito para o chão. Muito menos para os pés das pessoas. Por isso não sabia do que se tratava quando jornalistas me perguntaram: “Viu o sapato do Heston Blumenthal?” Mas, dai em diante, passei a observar sapatos. Afinal, os costumes estrangeiros se insinuam por todas as latitudes.

Mas o sapato que mais me impressionou foi esse a seguir, usado por Mari Hirata, no qual o dedão é vestido separado dos demais dedos do pé. Demoníaco. Japonês.


Gin tônica

Um hábito que eu não conhecia é o de se tomar gin tonica após as refeições. Ao menos os espanhós tomam-no em quantidade e frequencia surpreendentes, em taças enormes, cheias de gelo e uma casca de limão siciliano. É mesmo muito bom como fecho de uma refeição.

Atraído por isso, fui conhecer o cocktail bar Ideal, em Barcelona (carrer Aribau, 89 - www.idealcocktailbar.com). Fundado em 1931, teria tudo para ser vetusto, mas é apenas elegante. A carta impressa oferece 35 marcas de gin, mas o maitre assegura que já são 90 marcas de gin e 15 marcas de tônicas. Fiz tantas perguntas sobre o cardápio que ganhei um.Boa parte da coleção atual foi ofertada por clientes fiéis, desejosos de melhorar seu bar.

3 comentários:

luiz horta disse...

Oi Carlos:
1- Txakoli é uma delícia, é vivaz e ótimo com todos os peixes etc
2-Cava não é só catalã, é a única denominação de origem não contínua geograficamente na península, tem cava madrilenha, por exemplo
3- o sapato da mari é da muji, uma marca sem marca japonesa
4-a taça com o drinque da sua foto é dry martini e não gin tonica, que é servido em copo longo, sem azeitona e borbulha, por causa da tonica.
5- abraço

e-BocaLivre disse...

1. Não gosto. E, como você diz, só lá se pode ver virtudes. Não gosto nem lá. Quero meus peixes em melhor companhia
2. É verdade, mas a Cataluña vende como "sua". Como o txacoli é basco.
3. É. Um sapato popular, de pedreiros, por exemplo.
4. Sim, é de dry martini. Que também se serve no Ideal, paraiso do gin.
5. Outro!!!!

Alexandra Forbes disse...

Oi Dória e Horta,
1. Também acho txakoli uma bela ...
2. Se serviam champagne, tem a ver com $$/patrocinador, penso eu, mais do q com regionalismos, mesmo porque a chefona do Gastronomika vive em BCN
3. Tambem reparei em sapatos loucos, como os do Christian Escriba, prateados
4. Copo longo?! Em S.S. só servem em taçonas gigantes q eu chamo de aquários. Acho errado, acho exagerado, mas eles adoram.
5. abraço

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