22/02/2009

O silêncio sobre o Salmão dos Últimos Dias


O salmão está doente, muito doente. Depois que transformaram esse animal selvagem numa espécie de frango d´água, a natureza já não se responsabiliza por sua saúde. De fato, há algo que não cheira bem no mundo dos sushis, e está alojado naquele que é o preferido dos brasileiros: o sushi de salmão.
Há menos de quatro anos, um surto do parasita Diphyllobothrium foi associado, pela Vigilância Sanitária brasileira, ao consumo de salmão proveniente do Chile. Foram 28 casos constatados, o suficiente para causar pânico entre os consumidores e derrubar em 70% a venda do peixe nos restaurantes japoneses.
Estima-se (Associação Brasileira de Culinária Japonesa) que são servidas no país aproximadamente 30 milhões de porções/ano de salmão. Por isso, os 28 casos de infecção, representariam o equivalente a 0,00009% de contaminação, o que não poderia ser considerado um “surto”.
Surto ou susto, muitas pessoas passaram a ficar de olho no salmão.Ninguém gosta da idéia de ser infectado pelo que come.
O susto passou. Mas, agora, o Chile parece estar às voltas como problemas mais sérios envolvendo os seus salmões de cativeiro. No ano passado, um vírus devastou as fazendas de salmão do Chile, gerando milhares de desempregados. Elas se mudaram para o sul do litoral chileno, mas o vírus foi com elas.
No entanto, quando a mortandade foi noticiada pelo The New York Times, alguns compradores norte-americanos, como o supermercado Safeway, restringiram suas importações.O jornalista Alexei Barrionuevo, autor da matéria do The New York Times, já vinha fazendo várias reportagens sobre a crise do salmão chileno. Quando elas passaram a afetar os negócios, Barrionuevo foi acusado pelos chilenos de trabalhar para o lobby dos concorrentes noruegueses. Não era para menos. Trata-se de uma indústria de US$ 2 bilhões anuais e que, em duas décadas, se transformou na segunda maior exportadora do mundo e maior fornecedora de salmão para os Estados Unidos, além do Japão, França e Brasil.
Acontece que a Ong Pew Environmental Group teve acesso aos relatórios de inspeção do FDA norte-americano sobre a aqüicultura chilena e constatou-se que, contra os parasitas do salmão, os produtores estavam utilizando antibióticos e outros produtos químicos banidos nos Estados Unidos. Daí a restrição à importação.
De fato, os chilenos têm dificuldade para cumprir essa regulamentação na medida em que, no combate à bactéria rickettsia, carregada pelos piolhos do mar, que causam lesões passíveis de infecção, precisam usar o benzoato de emamectina, além de antibióticos para controlar as infecções resultantes. Autoridades do FDA dizem que a emamectina só pode ser usada em poucos casos nos Estados Unidos, e é um dos três químicos proibidos, destacados nos seus documentos de inspeção.
Os europeus também já sentem os malefícios dessas granjas de salmões. Um site português de divulgação científica escreveu: “É um contrassenso que se promova a criação de peixes alimentados com uma dieta carnívora, numa época em que todas as reservas de peixe estão em colapso. Para cada quilo de salmão produzido nas explorações de aquicultura intensiva são necessários três quilos de outros peixes, peixes esses que são pescados nos oceanos. Mas o efeito nocivo da aquicultura do salmão vai muito para além [...] o piolo de peixe que se escapa das quintas de salmão dizima os juvenis dos salmões selvagens, ou seja, a criação do salmão tem um impacto brutalmente negativo na sobrevivência do salmão na natureza [...].avaliada num estudo recente: em áreas onde há salmões de aviário a taxa de sobrevivência do salmão selvagem cai por mais de 50%. Reduzir os impactos da aquicultura de salmão no salmão selvagem devia ter uma prioridade elevada.”
E nós, brasileiros, não só consumimos este salmão sob o mais absoluto silêncio da imprensa como também exportamos farinha de penas de aves para alimentar os salmões do Chile. Voltaremos a este assunto.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mas será que não tem nenhum salmãozinho melhorzinho, não? Será que são todos ruins assim? Isso está me cheirando mais a uma guerra comercial que a outra coisa. Produtores, exportadores e/ou importadores de salmão de cativeiro chileno contra produtores, importadores de salmão europeu ou canadense/Alaska. Será que todo salmão do Chile é criado e tratado da mesma maneira?

Anônimo disse...

Acredito que sim, o preço e a especulação financeiras, geram os problemas e as bocas caladas.

Anônimo disse...

Apenas um esclarecimento sobre surto ou susto: surto é definido (uma definição simplista mas fiel) como aumento do número de casos de um determinado agravo abruptamente. Neste caso, mesmo que percentualmente o número seja baixo, presumo que houve um número (28) que não era observado anteriormente, caracterizando, portanto, um surto. Se uma doença não é registrada há certo tempo, e surge um único caso, até assim caracteriza-se surto.

Unknown disse...

Sobre os comentários acima: não precisa ser um gênio pra saber que criar milhões de peixes em tanques artificiais vai dar merda.

Enquanto não começarem a ensinar psicologia nas escolas primárias as pessoas não vão entender que não podem ter tudo que vêem na TV e na internet.

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