Recebi do editor-proprietário da Gosto o comentário abaixo sobre o meu post:
Carlos Dória, desde que você se arvorou em crítico das revistas gastronômicas, acompanho seu blog. Suas opiniões deveriam ser uma referência para o meu trabalho. Infelizmente, não servem para nada. Você faz uma leitura superficial das revistas e, além do mais, não entende nada de jornalismo, muito menos do gastronômico.
Poderia demolir todas as impropriedades que escreveu a meu respeito e da GOSTO, do ragu ao Ponto Chic. Entretanto, não perderei tempo com isso. Só acrescento que, apesar de querer ser um crítico das revistas gastronômicas, não entendeu até hoje o primeiro mandamento editorial da publicação que lancei no ano passado: falar de coisas que todo o mundo conhece, contando coisas que ninguém conhece ou das quais poucos já ouviram falar.
Mas o que realmente me deixou surpreso e decepcionado foi a acusação (indireta ou direta, pouco importa) de que não sou um editor independente, que estou vendendo a capa e reportagens da GOSTO para anunciantes. Ora, não lhe dou o direito de espalhar essa inverdade! Em 42 anos de jornalismo profissional, jamais vendi uma só página de revista. Sou de uma escola – a da VEJA, onde trabalhei 23 anos – na qual redação é redação e departamento de publicidade é departamento de publicidade. Isso todo o mundo sabe, menos você.
Portanto, se escolhi para capa da GOSTO o tiramisú do Roberto Ravioli, não foi porque ele anuncia na revista, mas por achar que o doce italiano e sua história divertida ajudariam a conquistar novos leitores e aumentar a nossa circulação. Afortunadamente, foi o que aconteceu. Se depois Ravioli usou a reportagem para se promover, é outra coisa, até porque está no direito de festejar a enorme repercussão alcançada. Finalmente, caso você tivesse realmente lido o texto sobre “os bravos empresários” da churrascaria Vento Haragano, saberia que o publiquei porque tem novidade e, portanto, interesse jornalístico.
Para seu conhecimento, sempre escolhi as capas com absoluta liberdade, sem consultar ninguém, independentemente do fato de o autor do prato estar anunciando ou não – e vou continuar a fazer isso. O mesmo acontece com as reportagens. Não será o Carlos Dória que vai me ensinar a dirigir ou pautar uma revista.
Aviso: em junho a GOSTO continuará a mesma. Afinal, faço a revista para os meus leitores, felizmente numerosos, não para você.
A gente constrói durante anos uma carreira pautada pela ética, responsabilidade – e um dia aparece um sujeito para nos difamar na internet.
Se voltar a me chamar de venal (indireta ou diretamente), quem vai procurá-lo será o meu advogado.
J. A. Dias Lopes
Respondo:
Caro Dias Lopes. Você é um homem de imprensa há 42 anos e se formou na “escola de Veja” (sic). Certamente foi obrigado a lutar pela liberdade de expressão. Então, é claro que você faz a sua revista como bem entende e eu faço o meu blog como bem entendo. Você sabe o valor disso. Não adianta me ameaçar se eu não me corrigir daqui para a frente. Você não tem o monopólio do gosto como eu não tenho o da crítica.
Na nova seção “Revista das Revistas” não faço críticas para serem úteis aos editores, embora eventualmente possam ser. Faço porque a imprensa se desacostumou da crítica, como é sabido. E nem pretendo “entender de jornalismo”, embora esta não seja uma disciplina superior.
Faço mesmo uma leitura rápida das revistas. Mais impressionista do que qualquer outra coisa: o objetivo da crítica é levar o próprio leitor a refletir na profundidade que ele deseje sobre os problemas facilmente percebidos e apontados (com ou sem propriedade). O suposto é que ele deve confiar mais no seu próprio juízo do que no meu ou no seu. O leitor não é um néscio. Se eu sou injusto, etc, ele não mais me lerá. Ou, ao contrário, considerará pertinente e seguirá lendo. Pessoalmente, não faço nada para “conquistar novos leitores” pois este espaço aqui é gratuito, não tem patrocínio algum, não depende da quantidade de leitores. Esta a possibilidade fascinante que a net oferece.
Mas o que mais lhe aborreceu foi a seguinte passagem do meu comentário às revistas de maio: “o que me chateia mesmo é quando se borram as fronteiras entre o marketing, a publicidade, e a política editorial. Mês passado chamei a atenção para a matéria de capa sobre tiramissu na Gosto e o anúncio do Empório Ravióli na mesma edição. Não é que nesse número a imagem do tiramissu aparece já incorporada ao anuncio do Empório Ravióli? Infelizmente, eu tinha razão. E, agora, o movimento é do Vento Haragano. Uma matéria sobre os bravos empresários que são os donos e um anúncio do próprio restaurante, lá atrás, na página 75. Merchandising da pior espécie. Será que só são interessantes os empresários que anunciam? Há também as matérias sobre os que não anunciaram...etc”.
Em nenhum momento, como pode constatar lendo com cuidado, chamei você de “venal”, seja direta ou indiretamente. Não disse que você vende capa ou qualquer coisa que não seja anúncio. Disse sim – e repito – que me incomoda, aborrece, ver essa coincidência persistente entre matérias editoriais e anúncios. Aliás, nem restringi esta crítica a Gosto. Substancialmente, gosto da comida do Ravióli e acho justo ele estar na capa.
Portanto, se seu advogado for me procurar no futuro, terá dificuldades em provar que eu o considero “venal”. Você há de convir comigo, no entanto – e Veja certamente é uma escola – que a coincidência é incômoda. E incômoda especialmente para você, pois algum leitor poderá fazer ilações indevidas. É isso que me incomoda: o flanco aberto.
Eu sei que você acompanha meu blog desde antes do surgimento dessa nova seção. E já o elogiou, inclusive reproduzindo passagens dele em sua revista. Lamento não poder agradá-lo sempre.
Quanto à revista de junho, saiba que estamos aqui para o que der e vier. Torço para que ela seja cada vez melhor, inclusive marcando muito mais claramente a fronteira entre material editorial e publicitário.
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19/05/2010
16/05/2010
As noivas não gostam muito de comer
Sou um leitor chato. Passei o dia lendo as revistas de gastronomia e conclui: maio não é um grande mês. É o mês das noivas e, nessa fase, elas querem mesmo é entrar nos vestidos de número menor do que o que normalmente usam, em grande desestímulo ao prazer de comer. Assim, se eu fosse, além de chato, um sujeito muito rigoroso, diria que em maio é preciso comprar três revistas para ler uma só por inteiro, isto é, catando umas coisas aqui e outras ali.
Numa vista d´olhos geral, fica aquele gosto caseiro que as revistas de gastronomia vêm transmitindo, talvez por economia. Dias Lopes assina quatro matérias na Gosto; Beatriz Marques, quatro na Menu. Só a Prazeres parece preocupada em mostrar diversidade de opiniões. Essa revista se destaca pelas boas cooptações que faz. Mas serem mais ou menos monográficas não implica necessariamente em variações de qualidade.
Excelente matéria sobre o vongole (Gosto); e excelentes matérias de Beatriz Marques: “Doçura nativa”, “Mar verde” – sobre mel nativo e sobre Jaen, na Espanha (Menu). Beatriz vem se destacando ao escrever sobre ingredientes e desenvolvendo um método de se aproximar deles. Os tributos a Alexandro Robaina (Prazeres da Mesa) e ao Russo (Gosto) são justíssimos. Boa também a matéria de Constance Escobar sobre as filiais cariocas de casas consagradas, na Prazeres.
Essas matérias dão a sensação que tem gente que vai atrás das coisas, vive e narra: ou que, mesmo sem ir longe, é capaz de nos chamar a atenção para fatos novos do mundo que contam para a gastronomia. Mais umas notas esparsas e interessantes aqui e ali, mas depois de se ler essa revista composta de três revistas, vai ficando mais difícil satisfazer a curiosidade. Parece que o resto é o resto.
Me explico. O que me move é a curiosidade, descobrir coisas novas ou ângulos novos de análise de coisas que já conheço. Por isso mesmo não agüento ler mais nada sobre o Ponto Chic e o seu Bauru, como essa 200ª matéria (Gosto). Você já deu uma busca na net para “ponto chic” ou “sanduíche Bauru”? Então. E tem as matérias oportunistas (ou “de oportunidade”) como a o mês das noivas (Menu), o cardápio de Alice no país da maravilhas (argh!) na Gosto; a copa do mundo que se aproxima, etc. Parece que a gastronomia não tem uma dinâmica própria, vive do parasitismo temático.
A Menu faz o seu testdrive com o “bem-casado”. Analisa 10 marcas. Mas a idéia de “isenção” é de deixar qualquer noiva desacorçoada. Qual comprar? A revista não dá a menor pista. A isenção como desinformação.
Os pratos dos chefs de países que venceram a copa não têm pé nem cabeça. Dá-lhe África do Sul (e os vinhos de lá? Salva a cara a coluna do Carlos Cabral na Prazeres...)! Acabaremos tendo Juca Kfouri como colunista de gastronomia nesse ano da graça de 2010, quiçá ao lado do também corintiano Washington Olivetto.
E quando paramos de deambular por tanta página colorida, o que chama a atenção nas revistas de maio é a liberdade de designação das coisas de comer. Não que sejamos nominalistas, mas é sempre bom ver cada coisa no seu lugar, até para refletir sobre suas transformações.
O Larousse Gastronomique tem uma definição de ragout que supõe sempre a carne (qualquer, inclusive de ave ou peixe) ou legumes, cortados em pedaços de tamanho médio, cozidos em caldo aromatizado com ervas. É uma tradição que vem desde meados do século XVII, sendo que o ragout se bifurcou, com o tempo, em ragout branco e marron.
Dias Lopes, na matéria de capa da Gosto sobre o ragu, vai buscar sua vertente italiana e encontra a enciclopédia Reader´s Digest para legitimar a idéia de que o molho a bolonhesa que conhecemos pertence à família dos ragus, que Dias ainda deriva por região da Itália. Assim, de repente, a Itália parece a terra do ragu. É uma tese bastante discutível. Os italianos chamam mesmo de ragu vários molhos de carne moída, mas devemos acompanhar essa vulgata e abrir mão da caracterização precisa do que seja um ragu? Me parece que não há qualquer ganho nisso.
O mesmo acontece com o parmentier de vitela que Menu apresenta. A receita com esse nome, encontrada na Larousse Gastronomique, não leva cenoura, salsão, alho-porró ou a profusão de ervas que a revista trás. Mas o nome “parmentier” não é neutro em gastronomia, e fica a nos faltar uma explicação para essa dilatação de sentido que a revista estabelece, especialmente porque existe um “clássico” que é Cotes de veau en casserole à la Parmentier com a qual a receita de Menu nada tem a ver.
Ainda no terreno das designações, é louvável que Menu se proponha a fazer um glossário dos termos técnicos utilizados na edição. Ajudaria a introduzir os neófitos no assunto. Mas precisa ser mais rigorosa nas definições. Por exemplo: “azeite de pepita de uva”, é explicado como "óleo extraído de semente de uva" mas bastaria ser traduzido por completo do espanhol para o português (e não apenas aceite por azeite...). O leitor não é um néscio. Iquiriba, semente “muito usada para aromatizar caldas”. Digamos que esse uso não é popular, nem freqüente. A iquiriba é normalmente utilizada para aromatizar cachaça apenas. Outros usos experimentais são recentíssimos e restritos à pesquisa de vanguarda. Na definição imprecisa perde-se o movimento de deslocamento do ingrediente da culinária popular para a gastronomia “erudita”.
Mas, como sou implicante, o que me chateia mesmo é quando se borram as fronteiras entre o marketing, a publicidade, e a política editorial. Mês passado chamei a atenção para a matéria de capa sobre tiramissu na Gosto e o anúncio do Empório Ravióli na mesma edição. Não é que nesse número a imagem do tiramissu aparece já incorporada ao anuncio do Empório Ravióli? Infelizmente, eu tinha razão. E, agora, o movimento é do Vento Haragano. Uma matéria sobre os bravos empresários que são os donos e um anúncio do próprio restaurante, lá atrás, na página 75. Merchandising da pior espécie. Será que só são interessantes os empresários que anunciam?
Há também as matérias sobre os que não anunciaram. Os gêmeos Javier e Sérgio Torres, do Eñe (Gosto). Javier se deixou encantar pela mandioquinha, do mesmo modo que Laurent, décadas atrás. Que coisa esse poder da mandioquinha, não? Mas o que me aguça a curiosidade sobre eles é como tocam dois restaurantes “de longe”. Na ausência, diz a revista, quem toca a cozinha é Flavio Miyamura. Creio que este é o verdadeiro personagem a merecer um perfil nessas revistas.
Menu vai às compras como os meninos do Dois Cozinha Contemporânea, no Mercado da Lapa. Certamente porque o Mercado Central se tornou uma Disney culinária, restando-nos apenas a Lapa. Mas onde eles compram exatamente, em que Box? Fica faltando...
Maraacuthai (Gosto), o restaurante daquela mocinha de 21 anos que já se acha muito experiente, deixa na boca a sensação de lagostin caramelado que ela acha “surpreendente”. É mesmo, Deus me livre... O mais? Vinhos, vinhos, vinhos e vinhos....Mas junho vem ai e a esperança nunca morre.
Numa vista d´olhos geral, fica aquele gosto caseiro que as revistas de gastronomia vêm transmitindo, talvez por economia. Dias Lopes assina quatro matérias na Gosto; Beatriz Marques, quatro na Menu. Só a Prazeres parece preocupada em mostrar diversidade de opiniões. Essa revista se destaca pelas boas cooptações que faz. Mas serem mais ou menos monográficas não implica necessariamente em variações de qualidade.
Excelente matéria sobre o vongole (Gosto); e excelentes matérias de Beatriz Marques: “Doçura nativa”, “Mar verde” – sobre mel nativo e sobre Jaen, na Espanha (Menu). Beatriz vem se destacando ao escrever sobre ingredientes e desenvolvendo um método de se aproximar deles. Os tributos a Alexandro Robaina (Prazeres da Mesa) e ao Russo (Gosto) são justíssimos. Boa também a matéria de Constance Escobar sobre as filiais cariocas de casas consagradas, na Prazeres.
Essas matérias dão a sensação que tem gente que vai atrás das coisas, vive e narra: ou que, mesmo sem ir longe, é capaz de nos chamar a atenção para fatos novos do mundo que contam para a gastronomia. Mais umas notas esparsas e interessantes aqui e ali, mas depois de se ler essa revista composta de três revistas, vai ficando mais difícil satisfazer a curiosidade. Parece que o resto é o resto.
Me explico. O que me move é a curiosidade, descobrir coisas novas ou ângulos novos de análise de coisas que já conheço. Por isso mesmo não agüento ler mais nada sobre o Ponto Chic e o seu Bauru, como essa 200ª matéria (Gosto). Você já deu uma busca na net para “ponto chic” ou “sanduíche Bauru”? Então. E tem as matérias oportunistas (ou “de oportunidade”) como a o mês das noivas (Menu), o cardápio de Alice no país da maravilhas (argh!) na Gosto; a copa do mundo que se aproxima, etc. Parece que a gastronomia não tem uma dinâmica própria, vive do parasitismo temático.
A Menu faz o seu testdrive com o “bem-casado”. Analisa 10 marcas. Mas a idéia de “isenção” é de deixar qualquer noiva desacorçoada. Qual comprar? A revista não dá a menor pista. A isenção como desinformação.
Os pratos dos chefs de países que venceram a copa não têm pé nem cabeça. Dá-lhe África do Sul (e os vinhos de lá? Salva a cara a coluna do Carlos Cabral na Prazeres...)! Acabaremos tendo Juca Kfouri como colunista de gastronomia nesse ano da graça de 2010, quiçá ao lado do também corintiano Washington Olivetto.
E quando paramos de deambular por tanta página colorida, o que chama a atenção nas revistas de maio é a liberdade de designação das coisas de comer. Não que sejamos nominalistas, mas é sempre bom ver cada coisa no seu lugar, até para refletir sobre suas transformações.
O Larousse Gastronomique tem uma definição de ragout que supõe sempre a carne (qualquer, inclusive de ave ou peixe) ou legumes, cortados em pedaços de tamanho médio, cozidos em caldo aromatizado com ervas. É uma tradição que vem desde meados do século XVII, sendo que o ragout se bifurcou, com o tempo, em ragout branco e marron.
Dias Lopes, na matéria de capa da Gosto sobre o ragu, vai buscar sua vertente italiana e encontra a enciclopédia Reader´s Digest para legitimar a idéia de que o molho a bolonhesa que conhecemos pertence à família dos ragus, que Dias ainda deriva por região da Itália. Assim, de repente, a Itália parece a terra do ragu. É uma tese bastante discutível. Os italianos chamam mesmo de ragu vários molhos de carne moída, mas devemos acompanhar essa vulgata e abrir mão da caracterização precisa do que seja um ragu? Me parece que não há qualquer ganho nisso.
O mesmo acontece com o parmentier de vitela que Menu apresenta. A receita com esse nome, encontrada na Larousse Gastronomique, não leva cenoura, salsão, alho-porró ou a profusão de ervas que a revista trás. Mas o nome “parmentier” não é neutro em gastronomia, e fica a nos faltar uma explicação para essa dilatação de sentido que a revista estabelece, especialmente porque existe um “clássico” que é Cotes de veau en casserole à la Parmentier com a qual a receita de Menu nada tem a ver.
Ainda no terreno das designações, é louvável que Menu se proponha a fazer um glossário dos termos técnicos utilizados na edição. Ajudaria a introduzir os neófitos no assunto. Mas precisa ser mais rigorosa nas definições. Por exemplo: “azeite de pepita de uva”, é explicado como "óleo extraído de semente de uva" mas bastaria ser traduzido por completo do espanhol para o português (e não apenas aceite por azeite...). O leitor não é um néscio. Iquiriba, semente “muito usada para aromatizar caldas”. Digamos que esse uso não é popular, nem freqüente. A iquiriba é normalmente utilizada para aromatizar cachaça apenas. Outros usos experimentais são recentíssimos e restritos à pesquisa de vanguarda. Na definição imprecisa perde-se o movimento de deslocamento do ingrediente da culinária popular para a gastronomia “erudita”.
Mas, como sou implicante, o que me chateia mesmo é quando se borram as fronteiras entre o marketing, a publicidade, e a política editorial. Mês passado chamei a atenção para a matéria de capa sobre tiramissu na Gosto e o anúncio do Empório Ravióli na mesma edição. Não é que nesse número a imagem do tiramissu aparece já incorporada ao anuncio do Empório Ravióli? Infelizmente, eu tinha razão. E, agora, o movimento é do Vento Haragano. Uma matéria sobre os bravos empresários que são os donos e um anúncio do próprio restaurante, lá atrás, na página 75. Merchandising da pior espécie. Será que só são interessantes os empresários que anunciam?
Há também as matérias sobre os que não anunciaram. Os gêmeos Javier e Sérgio Torres, do Eñe (Gosto). Javier se deixou encantar pela mandioquinha, do mesmo modo que Laurent, décadas atrás. Que coisa esse poder da mandioquinha, não? Mas o que me aguça a curiosidade sobre eles é como tocam dois restaurantes “de longe”. Na ausência, diz a revista, quem toca a cozinha é Flavio Miyamura. Creio que este é o verdadeiro personagem a merecer um perfil nessas revistas.
Menu vai às compras como os meninos do Dois Cozinha Contemporânea, no Mercado da Lapa. Certamente porque o Mercado Central se tornou uma Disney culinária, restando-nos apenas a Lapa. Mas onde eles compram exatamente, em que Box? Fica faltando...
Maraacuthai (Gosto), o restaurante daquela mocinha de 21 anos que já se acha muito experiente, deixa na boca a sensação de lagostin caramelado que ela acha “surpreendente”. É mesmo, Deus me livre... O mais? Vinhos, vinhos, vinhos e vinhos....Mas junho vem ai e a esperança nunca morre.
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Revista das Revistas
26/04/2010
Os ultranovos
Sobretudo os jovens, nordestinos proletários, ocupavam os postos das cozinhas paulistanas. Ante de se encaminharem para a construção civil, procuravam ocupação nos restaurantes onde, ao menos, havia o de comer. Dormiam em cortiços, nas chamadas “camas quentes”, em sistema de rodízio a cada oito horas. A eles não se dirigia sequer um olhar.
O Guia da Folha (23 a 29 de abril) traz na capa a “Nova safra” de chefs de cozinha (uma dezena) paulistanos. Jovens de classe média. Quase todos chegaram a essa posição a cavaleiro do capital. Nem sempre sabem "chefiar" um restaurante.
Mas o que quer dizer “novos chefs”? Gente que, apesar da idade, já faz coisas inesquecíveis? Não, pelo que percebi, o recorte é de chefs novinhos, uma demonstração da virtude da idade. Vinte e poucos anos.
Mas idade não é documento, obra sim. A matéria, por exemplo, diz que Le French Bazar é “bem avaliada desde sua estréia”. Como leio Que bicho me mordeu não tenho essa impressão.
E lendo a matéria do Guia é curioso ver um deles declarar que odeia “espumas e esferas da moderna gastronomia espanhola”. Provavelmente não sabe que o Adrià também execra essas cópias de algo que ficou lá no passado.
De fato, estão em formação. E, como tal, se entregam às soluções fáceis: purês de mandioquinha, maracujá pra lá e pra cá, trufa e mais trufa, a Tailândia inventada, etc. Eu gosto de mandioquinha, de maracujá, de tartufo bianco d´Alba; e gostaria que a Tailândia existisse mais do que a Bulgária.
Certamente alguns crescerão, outros ficarão para trás. Claro, aposto nos guris do Dois – Cozinha Contemporânea, como já escrevi várias vezes. Logo logo eles vão sair da “faixa dos 20 anos”. Vão ficar maduros e dizer a que vieram. Queremos cozinheiros safrados, não é? O Rodrigo Oliveira, também nessa faixa de idade, já andou bastante, e sem invencionices. Assim como o Thiago Castanho, se incluirmos os "lontanos" ou não-paulistanos.
O Guia da Folha (23 a 29 de abril) traz na capa a “Nova safra” de chefs de cozinha (uma dezena) paulistanos. Jovens de classe média. Quase todos chegaram a essa posição a cavaleiro do capital. Nem sempre sabem "chefiar" um restaurante.
Mas o que quer dizer “novos chefs”? Gente que, apesar da idade, já faz coisas inesquecíveis? Não, pelo que percebi, o recorte é de chefs novinhos, uma demonstração da virtude da idade. Vinte e poucos anos.
Mas idade não é documento, obra sim. A matéria, por exemplo, diz que Le French Bazar é “bem avaliada desde sua estréia”. Como leio Que bicho me mordeu não tenho essa impressão.
E lendo a matéria do Guia é curioso ver um deles declarar que odeia “espumas e esferas da moderna gastronomia espanhola”. Provavelmente não sabe que o Adrià também execra essas cópias de algo que ficou lá no passado.
De fato, estão em formação. E, como tal, se entregam às soluções fáceis: purês de mandioquinha, maracujá pra lá e pra cá, trufa e mais trufa, a Tailândia inventada, etc. Eu gosto de mandioquinha, de maracujá, de tartufo bianco d´Alba; e gostaria que a Tailândia existisse mais do que a Bulgária.
Certamente alguns crescerão, outros ficarão para trás. Claro, aposto nos guris do Dois – Cozinha Contemporânea, como já escrevi várias vezes. Logo logo eles vão sair da “faixa dos 20 anos”. Vão ficar maduros e dizer a que vieram. Queremos cozinheiros safrados, não é? O Rodrigo Oliveira, também nessa faixa de idade, já andou bastante, e sem invencionices. Assim como o Thiago Castanho, se incluirmos os "lontanos" ou não-paulistanos.
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Revista das Revistas
23/04/2010
Leituras de bordo
Há dias nos quais você quer descansar e resolve passar os olhos por todas as publicações sobre gastronomia que tem em mãos. As leituras de bordo da nau culinária. Menu, Gosto e Prazeres da mesa de abril.
A capa da Menu complica o picadinho. Reduz uma tradição a um gesto: picar não importa o que. Daí, é claro, os picadinhos se multiplicam. Mas o que impressiona mesmo é que quem faz a revista é Suzana Barelli. Bem que merece um aumento salarial! Há cinco textos assinados por ela, inclusive um relato de bom jornalismo, da viagem ao Vale dos Vinhedos que nos informa que de lá não sairá nada semelhante a vinho nesse ano, graças às chuvas. O resultado é que as uvas irão servir para decuplicar a produção de espumantes. Vamos torcer para que os enochatos se dêem conta disso.
Pontos baixos: a matéria sobre “ingredientes amazônicos” que não sai dos limites do restaurante Banzeiro, em Manaus. Podia muito bem ter passado pelo Ver-o-peso e pelo Remanso do Peixe, em Belém. E também a matéria sobre gastronomia em alto-mar. Parece informe publicitário da linha Crystal Cruises. OK, mas podia nos avisar se é.
Prazeres da mesa traz boa matéria sobre Benny Novak, esse eclético cozinheiro-empresário. Mostra como, através de terceiros, consegue “estar” onde não está, garantindo a qualidade que promete daquilo que entrega. É um modelo de negócios interessante. Faz também um bom roteiro de Brasília, cidade na qual a gente nunca sabe onde ir à noite.
Achei uma bobagem a matéria sobre o desafio de cozinhar "sem nenhum tipo de energia". O que é isso? A energia corpórea não é energia na Prazeres? E colocam como selo da matéria "especial Sustentabilidade". Bah! As virtudes dos pratos executados por Roberta Sudbrack e Yann Corderon não são as apontadas. São outras e melhores! E a sustentabilidade, convenhamos, é outra coisa! Parece faltar idéias propriamente culinárias nas reuniões de pauta... assim como conceitos de sustentabilidade.
O difícil mesmo é um informe publicitário nas páginas 104-105. Gente, o que é aquilo??? Há um esforço gráfico da revista que se põe a perder por uns trocadinhos e pela vaidade de um certo Ronaldo Varela. Não pode! Ou melhor, não deveria!!!
A Gosto melhorou bastante, não é mesmo? Graficamente avançou bastante. E quer ser popular, tratando do Polpettone. Mas cobrando R$ 11,90 é difícil. Melhor ficaria essa matéria em Claudia Cozinha. Mas o que me criou um certo mal estar foi a matéria de capa, sobre o tiramisú, coisa à qual Dias Lopes também dedica o seu editorial. Tá tudo bem explicadinho por Roberto Ravióli, em texto na primeira pessoa. Mas não pega bem fazer isso num número que traz estampado anúncio de página inteira do Empório Ravióli, do mesmo mestre-cuca.
O impressionante mesmo é a presença maciça dos anúncios de vinhos em todas elas. A bonificação que os importadores recebem das vinícolas dá nisso. A desova de anúncios nas revistas, tornando inclusive o material editorial desequilibrado. Muita harmonização. Demais da conta. Parece que o vinho é o principal da vida.
E li também o Guia da Folha da semana passada. Interessante a sensibilidade de Marilia Miragaia para os chineses da Liberdade. Fala da reforma do Chi Fu e fala do Jardim Meio Hectare. O destaque não é para as comidas exóticas, mas para a incomunicabilidade do cardápio.
Acho que já é hora de alguém fazer um esforço para passar os chineses a limpo. Se é difícil penetrar nesse universo, por que não pedir socorro a uns chineses que possam fazer a ponte com a nossa curiosidade gastronômica? Um roteiro do que é bom, prato a prato, é o que estamos a necessitar dos guias.
A capa da Menu complica o picadinho. Reduz uma tradição a um gesto: picar não importa o que. Daí, é claro, os picadinhos se multiplicam. Mas o que impressiona mesmo é que quem faz a revista é Suzana Barelli. Bem que merece um aumento salarial! Há cinco textos assinados por ela, inclusive um relato de bom jornalismo, da viagem ao Vale dos Vinhedos que nos informa que de lá não sairá nada semelhante a vinho nesse ano, graças às chuvas. O resultado é que as uvas irão servir para decuplicar a produção de espumantes. Vamos torcer para que os enochatos se dêem conta disso.
Pontos baixos: a matéria sobre “ingredientes amazônicos” que não sai dos limites do restaurante Banzeiro, em Manaus. Podia muito bem ter passado pelo Ver-o-peso e pelo Remanso do Peixe, em Belém. E também a matéria sobre gastronomia em alto-mar. Parece informe publicitário da linha Crystal Cruises. OK, mas podia nos avisar se é.
Prazeres da mesa traz boa matéria sobre Benny Novak, esse eclético cozinheiro-empresário. Mostra como, através de terceiros, consegue “estar” onde não está, garantindo a qualidade que promete daquilo que entrega. É um modelo de negócios interessante. Faz também um bom roteiro de Brasília, cidade na qual a gente nunca sabe onde ir à noite.
Achei uma bobagem a matéria sobre o desafio de cozinhar "sem nenhum tipo de energia". O que é isso? A energia corpórea não é energia na Prazeres? E colocam como selo da matéria "especial Sustentabilidade". Bah! As virtudes dos pratos executados por Roberta Sudbrack e Yann Corderon não são as apontadas. São outras e melhores! E a sustentabilidade, convenhamos, é outra coisa! Parece faltar idéias propriamente culinárias nas reuniões de pauta... assim como conceitos de sustentabilidade.
O difícil mesmo é um informe publicitário nas páginas 104-105. Gente, o que é aquilo??? Há um esforço gráfico da revista que se põe a perder por uns trocadinhos e pela vaidade de um certo Ronaldo Varela. Não pode! Ou melhor, não deveria!!!
A Gosto melhorou bastante, não é mesmo? Graficamente avançou bastante. E quer ser popular, tratando do Polpettone. Mas cobrando R$ 11,90 é difícil. Melhor ficaria essa matéria em Claudia Cozinha. Mas o que me criou um certo mal estar foi a matéria de capa, sobre o tiramisú, coisa à qual Dias Lopes também dedica o seu editorial. Tá tudo bem explicadinho por Roberto Ravióli, em texto na primeira pessoa. Mas não pega bem fazer isso num número que traz estampado anúncio de página inteira do Empório Ravióli, do mesmo mestre-cuca.
O impressionante mesmo é a presença maciça dos anúncios de vinhos em todas elas. A bonificação que os importadores recebem das vinícolas dá nisso. A desova de anúncios nas revistas, tornando inclusive o material editorial desequilibrado. Muita harmonização. Demais da conta. Parece que o vinho é o principal da vida.
E li também o Guia da Folha da semana passada. Interessante a sensibilidade de Marilia Miragaia para os chineses da Liberdade. Fala da reforma do Chi Fu e fala do Jardim Meio Hectare. O destaque não é para as comidas exóticas, mas para a incomunicabilidade do cardápio.
Acho que já é hora de alguém fazer um esforço para passar os chineses a limpo. Se é difícil penetrar nesse universo, por que não pedir socorro a uns chineses que possam fazer a ponte com a nossa curiosidade gastronômica? Um roteiro do que é bom, prato a prato, é o que estamos a necessitar dos guias.
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