19/09/2009

O fim da mata virgem

O conceito de mata virgem, que faz parte do ideário romântico (lembra do Gonçalves Dias?), acaba de vir definitivamente por terra. A revista Current Anthropology, de outubro de 2009, apareceu como um número especial intitulado Repensando as origem da agricultura, reunindo os textos que são fruto de um seminário denominado “Os começos da agricultura: novos dados e novas idéias”.

Nele, descreve-se o mundo pré-agricola, anterior à domesticação e cultivo de plantas em larga escala que impulsionaram a civilização a partir do Neolítico (cerca de 10 mil anos antes do presente).

Em vários artigos, inclusive sobre as Américas, os povos primitivos aparecem praticando formas de manejo florestal que indicavam a domesticação de espécies vegetais sem, necessariamente, constituírem amplos cultivos homogêneos.

Muito disso já se sabia, inclusive por conta de pesquisas levadas a efeito por décadas pelos cientistas do Museu Goeldi.

Mas o fato de uma publicação dessa importância (que, por sinal, faz 50 anos) se ocupar do tema indica que, definitivamente, o conceito de “mata virgem” foi para o saco. Muito do que conhecemos por frutas silvestres será revisto, destacando-se o silencioso trabalho humano de seleção e melhoria delas ao longo de milênios. Enfim, a história da seleção artificial não começou com a Monsanto.

E há aspectos políticos e comerciais implicados nessas descobertas. Se a Monsanto registra um desenvolvimento genético qualquer, se torna uma patente sua e ganha uma baba de grana. Por outro lado, esse trabalho milenar dos nativos das Américas aparecia aos nossos olhos como "mata virgem", isto é, como se fosse o conjunto de atributos naturais das plantas, portanto desprovidos de aplicação de inteligência humana. Dois pesos, duas medidas.

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