24/11/2009

Ca D'oro

Muito triste a confirmação do fechamento do Grande Hotel Ca D'Oro. Não por qualquer saudosismo, mas porque é um atestado inequívoco da autofagia do progresso em nosso país.

Euclides da Cunha já dizia que somos "fazedores de desertos", mostrando como o Vale do Paraiba foi sendo devastado, ao longo dos anos, pela fome do café por novas terras. No plano urbano é a mesma coisa. O eixo da vida burguesa, que é dinâmico e que outrora gravitou em torno da rua Augusta, completa o seu ciclo de destruição com o fim do Grande Hotel. Muita cultura e muita criatividade que estavam empenhadas nele vão para o saco de lixo da história.

O Hyatt é o novo templo da hotelaria, testemunho da globalização. Mas o fato dessa mudança exigir o sacrifício do Ca D'Oro é que diz da nossa índole. Nem na Europa nem nos EUA a modernização exige como tributo a morte do velho. Vide Plaza.

Tombamento? Nem pensar. O poder público só se dispõe a preservar um edificio ou instituição quando pode aboletar nele um punhado de burocratas, uns tantos cargos de confiança, transformando a coisa em "centro cultural". E com que cultura nos brinda!

1 comentários:

Breno Raigorodsky disse...

Não há como espernear, a morte anunciada demonstra uma certa nobreza (paquidérmica) do Grande Hotel, formador de um rigor com a gastronomia peninsular desconhecida até poucos anos atrás. A posteriori lamento ter elegido outros endereços para almoços e jantares, fazendo crescer a calda dos infiéis que somos, sempre procurando gastronomias novidadeiras, num moto continuo sem medidas.

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